A ministra dos Negócios Estrangeiros do Burkina Faso para o período de transição, Olivia Rouamba, afirmou, em declarações ao enviado checo para a região do Sahel, Thomas Ulicny, que Ouagadougou procura "uma solução endógena para combater a insegurança", provocada pelos grupos extremistas islâmicos a operar no país.
Em resposta às preocupações levantadas pelo enviado checo, de acordo com o portal do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) burquinabê, Olivia Rouamba afirmou que o seu país não tem "qualquer ligação com o grupo militar privado russo Wagner".
"Acreditamos na solução endógena para combater a insegurança. As nossas Forças de Defesa e Segurança (FDS) e os 'Voluntários para a Defesa e a Pátria" (VDP) que recrutámos são os Wagner do Burkina Faso" afirmou Rouamba, citada pelo portal.
O Burkina Faso solicitou a saída das tropas francesas do seu território no prazo de um mês, numa carta enviada pelo ministério tutelado por Rouamba ao Eliseu no passado dia 18, em que "denuncia e põe termo, na sua totalidade, ao acordo" de 17 de dezembro de 2018 "relativo ao estatuto de intervenção das Forças Armadas francesas" no país.
As atuais autoridades do Burkina Faso, que chegaram ao poder através de um golpe de Estado em setembro último, o segundo em oito meses, expressaram o desejo de diversificar as suas parcerias, particularmente na luta contra o extremismo islâmico, que se expande no país desde 2015.
Entre os novos parceiros previstos, é frequentemente apontada a aproximação da Rússia. O próprio primeiro-ministro para a transição, Apollinaire Kyelem de Tembela, afirmou no final da semana passada, após uma reunião com o embaixador russo no país, Alexey Saltykov, que "a Rússia é uma escolha razoável nesta dinâmica" de reforço das alianças no combate ao extremismo islâmico].
"Pensamos que a nossa parceria deve ser reforçada", acrescentou Tembela, que fez uma visita discreta a Moscovo no início de dezembro.
O Presidente ganês, Nana Akufo-Addo, denunciou em dezembro a existência de "mercenários russos na fronteira norte" do Gana e acusou o Burkina Faso ter chegado a "um acordo para se juntar ao Mali no emprego de forças do Grupo Wagner" no país.
Na nota publicada no portal do MNE burquinabê, Olivia Rouamba sublinha ainda o "empenho" do governo de transição no Burkina Faso em corresponder aos compromissos assumidos no "consenso alcançado com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)".
O Governo está a "trabalhar para recuperar uma certa estabilidade, para reunir as condições necessárias para a realização de eleições dentro do prazo indicado", até julho de 2024, afirmou.
O Burkina Faso, governado por uma junta militar desde um golpe de estado em janeiro último contra o então presidente, Roch Marc Christian Kaboré, é palco de ações terroristas e insegurança crescente desde 2015.
A junta é agora chefiada por Ibrahim Traoré, protagonista de uma revolta em setembro, que foi considerada por vários analistas um "golpe palaciano" contra o anterior líder golpista, Paul-Henri Sandaogo Damiba.
Sucessivos ataques, tanto do grupo fundamentalista Al-Qaida como de grupos associados aos extremistas do Estado Islâmico na região, contribuíram para um aumento da violência intercomunitária e conduziram ao florescimento de grupos de autodefesa, muitos dos quais o Governo burquinabê integrou como "voluntários".
A deterioração da situação de segurança desde 2015 causou até agora milhares de mortos e pelo menos dois milhões de deslocados, segundo as Nações Unidas.
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