Ruanda. Noventa organizações defendem investigação a morte de jornalista

Um conjunto de 90 organizações da sociedade civil, incluindo o Observatório dos Direitos Humanos e a Amnistia Internacional, defenderam uma "investigação independente, imparcial e eficaz" à morte de um conhecido jornalista crítico do Governo no Ruanda.

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Lusa
31/01/2023 11:24 ‧ 31/01/2023 por Lusa

Mundo

Ruanda

John Williams Ntwali, 44 anos, editor do jornal The Chronicles, morreu em 18 de janeiro quando um veículo abalroou a mota em que seguia como passageiro, perto da capital do Ruanda, Kigali, tendo o condutor do carro sido levado sob custódia, mas não havendo mais informações até agora.

No comunicado assinado por 90 organizações da sociedade civil, principalmente africanas, defende-se que as autoridades ruandesas devem permitir uma "investigação independente, imparcial e eficaz", incluindo através de "peritos internacionais" após a "morte suspeita" de um jornalista proeminente e crítico do regime do Presidente Paul Kagamé.

"Contudo, duas semanas após o alegado acidente, as autoridades ruandesas ainda não apresentaram um relatório policial, não esclareceram a localização exata do alegado acidente, não mostraram provas fotográficas ou vídeo, nem forneceram informações detalhadas sobre outras pessoas alegadamente envolvidas no acidente", de acordo com o comunicado divulgado pelas 90 organizações.

O jornalista tinha sido, de acordo com a declaração, "regularmente ameaçado e atacado nos meios de comunicação pró-governamentais pelo seu trabalho de investigação.

Contactado pela agência francesa de notícias, o porta-voz da polícia local, John Bosco Kabera, respondeu: "O ficheiro sobre o acidente de Ntwali foi enviado para o Ministério Público e não podemos continuar a comentar".

A declaração dos ativistas surge uma semana depois de a porta-voz do Governo, Yolande Makolo, ter escrito no Twitter que as críticas eram "acusações infundadas" e pedido a todos para deixarem "os investigadores fazerem o seu trabalho".

"Ntwali", como era conhecido por muitos, foi preso muitas vezes durante a sua carreira, umas durante apenas algumas horas, mas noutras vezes chegou a estar detido durante várias semanas.

Fundou o canal YouTube Pax TV, que transmite sobretudo entrevistas em língua Kinyarwanda com vozes dissidentes.

As organizações da sociedade civil, incluindo a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional, também afirmam que "as autoridades ruandesas têm sistematicamente falhado em conduzir investigações credíveis sobre as mortes suspeitas de opositores políticos ou críticos governamentais".

Desde o final do genocídio de 1994, que deixou pelo menos 800.000 pessoas mortas, na sua maioria Tutsi, o Ruanda tem sido governado com punho de ferro por Paul Kagamé.

Elogiado pelos seus êxitos de desenvolvimento, o Presidente é também criticado por grupos de direitos humanos pela sua repressão da liberdade de expressão.

O país está classificado em 136.º lugar entre 180 países pela organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) em termos de liberdade de imprensa. "Desde 1996, oito jornalistas foram mortos ou desapareceram, e 35 foram forçados ao exílio", escreve a RSF no seu site, citada pela AFP.

Ao longo dos últimos dez anos, os meios de comunicação independentes tornaram-se escassos e são frequentemente bloqueados pelo Governo, lê-se ainda no artigo da AFP.

Leia Também: Ruanda acusou um caça da RDCongo de violar o seu espaço aéreo

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