Deputado da Duma da Região de Moscovo, Nadejdin disse em entrevista à Lusa que os desenvolvimentos na Ucrânia desde início da designada "operação militar especial", a 24 de fevereiro de 2022, demonstram que "foi mal pensada", sendo que "no início era suposto que a Ucrânia não oferecesse grande resistência" ao avanço das forças russas.
"A progressão das forças russas apresentava-se fácil. Pensava-se, também, que a população ucraniana se manteria neutral ou apoiaria a entrada das tropas russas. Supunha-se, também, que [o Presidente ucraniano Volodymyr] Zelensky não se manteria no poder", disse o deputado.
"Tornou-se evidente para todos, não só para gente como eu que foi crítica desde o início da operação, mas para a gente que apoiou a operação desde o início, que algo correu mal. A verdade é que a Rússia ficou numa situação muito delicada", salientou Nadejdin.
Com 59 anos, o político da oposição, um dos mais ativos contra o Kremlin, é fundador e presidente da Fundação Projectos Regionais e Legislação, além de candidato a doutor em Ciências Físico-Matemáticas.
Estando a Rússia sujeita a estritas leis que impõem pesadas penas a quem contrarie a versão oficial sobre a "operação militar especial" e que classifica como "agentes estrangeiros" quem defender a democracia ou direitos humanos no país, Nadejdin faz questão de frisar à Lusa, um meio estrangeiro, que este é "um assunto interno da Rússia".
Para Nadejdin, a invasão "foi um grande erro, cujas consequências se farão sentir por muito tempo".
"Acredito que o conflito se resolverá por acção da população da Rússia, sem qualquer interferência estrangeira. Espero que a população, quando chamada a pronunciar-se em eleições, no próximo ano, opte por outros dirigentes, que darão outro rumo aos acontecimentos militares. Será este o melhor cenário possível", disse à Lusa.
Questionado sobre se seria possível evitar este conflito, Nadejdin defendeu que há um ano "não passava pela cabeça de ninguém" que os militares russos entrassem em território ucraniano, algo que o Kremlin, de resto, negou até à última hora.
"Claro que o Donbass estava sob fogo de artilharia mais ou menos intenso, mas ninguém previa acções militares desta envergadura. A decisão foi tomada por Putin. Nem um perito preveria que a Rússia desferisse golpes no interior profundo da Ucrânia. Talvez Putin estivesse na posse de mais informações do que nós, para ter optado por tal decisão", frisou o político.
Além de ninguém esperar a resistência imposta pelas tropas ucranianas ou a reação adversa da população ao conflito, também a reacção do Ocidente terá consitituído surpresa, adiantou.
"Nunca antes a parte ocidental se mostrara tão consolidada contra a Rússia", disse à Lusa Boris Nadejdin.
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