O ex-ministro da Educação João Costa apresentou, esta segunda-feira, queixa na Polícia Judiciária (PJ) depois de "(mais) um email recebido com uma ameaça de morte".
O anúncio foi feito pelo antigo governante, numa coluna de opinião, escrita no jornal Expresso.
"Não é a primeira vez, mas talvez seja uma das mais explícitas, com várias ameaças formuladas, que terminam com a frase 'socialista bom é socialista morto'", escreveu, a partir da sede da PJ.
De acordo com João Costa, as ameaças têm origem numa "imagem falsa do que seria um manual escolar", no âmbito da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento e "da inscrição no currículo nacional de temas como a igualdade de género e a educação sexual".
"Estas ameaças recorrentes, inconsequentes até ao dia em que deixarem de o ser, são, obviamente, um dos graus zero da decência. E não escreveria este texto se não considerasse que a decência também vai a votos no dia 18 de maio, porque estas ameaças anónimas têm autores morais", salientou, acusando o "Chega, o Ergue-te, o PNR" pelo "crescimento dos crimes de ódio".
Apesar de admitir que não sabe quem foi o autor "da página falsa de um manual escolar em que se ensinariam as crianças a masturbar-se (que, aliás, já foi utilizado pelos bolsonaristas no Brasil, pelos trumpistas, nos EUA, e pela generalidade da extrema-direita), João Costa recorda que ouviu de um "deputado do Chega, no seu canal de YouTube, a sugestão "de forma absolutamente explícita, mas sem afirmar categoricamente (porque a cobardia é mesmo assim)" que era "pedófilo".
E lembra ainda outro caso, o de uma "ideóloga do Chega", com "presença assídua nas redes sociais", que faz apelos "contra a suposta 'ideologia de género'".
João Costa acusa ainda os "membros do atual governo ou dos partidos que o suportam", como Luís Montenegro, Aguiar Branco e Paulo Núncio, de serem cúmplices "silenciosos" destes crimes, enumerando uma série de episódios que "legitimam" a extrema-direita.
"Claro que não têm a mesma responsabilidade de um Chega ou de um Ergue-te, claro que não os vejo como promotores destas ameaças sinistras, mas tinham o dever moral e político de se distanciar, de repudiar, de agir sem moralismos bacocos ou piscadelas de olho a esta infame extrema-direita", fundamentou.
Por fim, o ex-ministro admite que "hesitou" antes de apresentar queixa na PJ e de escrever o texto, mas que "já chega de impunidade".
"Compete-me partilhar a ameaça, para defesa de todos, e para que seja muito claro que a democracia nos coloca na posição soberana de limpar (para a usar a expressão de que tanto gostam) a sujidade e a indignidade das instituições da República e do espaço público. Serão queixas que não dão em nada por serem contra desconhecidos? Talvez. Mas ficam registadas, para que não se faça de conta que este tipo de crime não existe. E ficam divulgadas para que se exponha a cobardia constante destes imbecis anónimos", concluiu.
Leia Também: Comissão de Igualdade denuncia jogo 'No Mercy' por discurso de ódio