Borrell lembrou que, apesar de terem sido "muito controversos", os tanques ocidentais chegarão à Ucrânia depois dos países da UE terem dado o seu aval "um a um", embora tenha defendido que deveria ter ocorrido "uma decisão europeia".
"Este acordo foi alcançado, a linha vermelha foi cruzada. Mas os aviões de combate, isso é outra questão", sublinhou o chefe da diplomacia europeia em declarações a um grupo de jornalistas onde se incluía a agência Efe.
Na véspera da visita de um grande número de comissários europeus à Ucrânia para "demonstrar a forte determinação em continuar a apoiar" o país invadido pela Rússia, Borrell realçou que o seu trabalho consiste em "tentar criar consenso" e que, para isso, é melhor evitar fazer posições públicas uns dos outros.
Por outro lado, frisou as diferentes posições entre os países da UE sobre a pertinência para entregar aeronaves de combate a Kiev ficaram claras em recentes declarações dos vários governos.
Enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros dos Países Baixos, Wopke Hoekstra, adiantou que o seu país vai estudar o fornecimento de F-16 a Kiev "com a mente aberta" caso a Ucrânia os solicite, o chanceler alemão, Olaf Scholz, descartou essa opção.
Também o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, descartou esta situação recentemente. Os governantes têm falado em evitar "a uma escalada maior" do conflito.
Questionado precisamente se acredita que a entrega de aviões a Kiev aumentaria a tensão na guerra, Borrell disse hoje que "a escalada está presente desde o início".
"Com os tanques, alertaram para ter cuidado porque podem levar a uma escalada", lembrou, acrescentando que "pouco a pouco, a Rússia tem aumentado o seu poder de fogo" e "atacado com armas pesadas", o que tem motivado a resposta do Ocidente.
O Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança salientou o importante reforço para o Exército ucraniano com a entrega de tanques, mas alertou que Kiev deve estar preparada para a possibilidade de a Rússia aumentar os seus ataques e até ameaçar invadir a Ucrânia pelo norte, a partir da Bielorrússia, embora não acredite num envolvimento direto deste país.
"O que está claro é que eles querem que os ucranianos espalhem as suas forças e estão a ameaçar um ataque pelo norte. Isso não significa que vai acontecer, mas nunca se sabe", analisou.
Borrell indicou ainda que a UE continua a trabalhar no décimo pacote de sanções contra a Rússia, no qual se estuda como dificultar ainda mais o acesso da Rússia a componentes tecnológicos, já bastante afetados por medidas restritivas anteriores, de modo que não possa usá-los em 'drones' ou aviões de guerra.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 7.110 civis mortos e 11.547 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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