Presidente da Sérvia adverte que país pode tornar-se num "Estado pária"

O Presidente da Sérvia referiu hoje durante uma turbulenta sessão no parlamento que seu país pode tornar-se num "Estado pária" europeu caso rejeite o plano ocidental para a normalização das relações com o Kosovo.

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Lusa
02/02/2023 16:27 ‧ 02/02/2023 por Lusa

Mundo

Aleksandar Vucic

O Presidente Aleksandar Vucic enfrentou uma receção hostil da oposição de direita, que exortou o parlamento a rejeitar o plano e acusando-o de trair a Sérvia.

O plano ainda não foi divulgado publicamente, mas Vucic disse estipular que a Sérvia não se oporá à inclusão do Kosovo em organizações internacionais, incluindo as Nações Unidas, apesar de não reconhecer formalmente o seu estatuto.

"Não assinei nada. Disse que prosseguiria as conversações", indicou Vucic. "As pessoas precisam de entender... Podemos tornar-nos num Estado pária? Sim, podemos".

A sessão ficou assinalada por diversas quezílias entre o partido de Vucic, no poder, e deputados da oposição. Alguns gritaram "Traição, traição", e "Não desistiremos do Kosovo", pedindo a demissão de Vucic.

Vucic, respondeu e acusou os deputados contestatários de "ladrões e traidores", indicou a agência noticiosa Associated Press (AP).

A soberania do Kosovo, uma antiga província da Sérvia que declarou a independência unilateral de 2008, não é reconhecida por Belgrado.

Em Pristina, o primeiro-ministro nacionalista albanês kosovar, Albin Kurti, colocou hoje condições para a formação de uma associação de municípios sérvios, uma proposta apoiada pelos Estados Unidos e União Europeia (UE).

Kurti disse que a associação apenas poderá ser formada no âmbito de um acordo global sobre a normalização das relações, sugestão que tem merecido o desacordo da Sérvia.

A atual liderança do Kosovo considera que uma comunidade de municípios dominados pelos sérvios do Kosovo, aceites pelas duas partes em 2013 na sequência de uma mediação da UE, poderá comprometer a estabilidade do país.

Kurti exortou Belgrado a desmantelar todas as instituições que apoia e existentes entre a comunidade dos sérvios kosovares, liminarmente contrárias à independência do Kosovo.

Vucic disse que os enviados ocidentais lhe referiram no mês passado que o processo de adesão da Sérvia à UE e o investimento estrangeiro seriam interrompidos caso Belgrado decida rejeitar o último plano ocidental para uma solução negociada.

No parlamento de Belgrado, os deputados da oposição definiram o plano ocidental para o Kosovo de "ultimato", significando que a Sérvia terá de reconhecer a independência do Kosovo como condição prévia para a adesão à UE.

Vucic disse ser de "interesse vital" para a Sérvia o prosseguimento do processo de adesão, mas reiterou que o país nunca irá aderir à NATO. A rejeição dos esforços ocidentais implicarão "um isolamento completo", advertiu. "Não podemos funcionar sozinhos", acrescentou, e quando o país mantém tradicionais e fortes relações históricas e culturais com a Rússia.

Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo em 2008, proclamada na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.

Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria de etnia albanesa e religião muçulmana.

O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.

A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil, África do Sul ou Indonésia) também não reconheceram a independência do Kosovo.

Leia Também: Presidente checo vê Sérvia, China e Turquia como "mediadores" da guerra

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