"As instalações de saúde enfrentam enormes desafios. Eles não têm medicamentos suficientes para tratar os pacientes e alguns deles não têm equipamento médico básico, como oxímetros de pulso, microscópios, 'scanners' de ultrassom, oxigénio para pacientes gravemente doentes", disse Jude Fuhnwi, porta-voz do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) na Etiópia, citado pela agência Efe.
Segundo Fuhnwi, em alguns destes centros existem "laboratórios, salas de operações, salas de parto e unidades de cuidados intensivos" vazias porque "equipamento e material foram pilhados ou destruídos" durante a guerra, período em que Tigray sofreu um "bloqueio humanitário de facto", como denunciado pelas Nações Unidas.
"Só somos capazes de dar o que temos no nosso coração. Mas isso não é suficiente, porque ver pacientes que vêm para tratamento morrerem nas nossas mãos é muito doloroso", disse Erdey Asefa, diretor-executivo do hospital de cuidados primários na cidade central de Yechilla, ao CICV.
Imagens divulgadas pela organização esta semana mostraram edifícios com telhados colapsados e quartos de hospital carbonizados, restando apenas o esqueleto de camas e mobiliário médico.
Como resultado da destruição causada pela guerra, "os serviços de saúde estão praticamente ausentes em algumas áreas", embora "melhores condições" na sequência do pacto de paz tenham permitido aos trabalhadores humanitários alcançar algumas destas áreas anteriormente difíceis de alcançar, indicou o CICV numa declaração.
"Muitas pessoas morreram por falta de cuidados médicos e milhares ficaram meses sem cuidados de saúde", acrescentou a organização, lamentando também a falta de ambulâncias.
"Em alguns casos, como em Yechilla, ainda não há Internet, telefone ou qualquer meio de comunicação. (...) Não há ambulâncias, os sistemas de água foram danificados na maioria destas instalações e alguns deles não têm um fluxo regular ou suficiente de água", disse Fuhnwi.
Segundo o CICV, apenas 82 das 250 ambulâncias que a organização utilizava na região antes do início da guerra em novembro de 2020 permanecem, e muitas delas não estão operacionais.
A entrega faseada de ajuda humanitária ao Tigray foi um dos principais pontos do acordo de paz assinado em 02 de novembro na África do Sul por Adis Abeba e pelos rebeldes da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF), partido que governava a região quando o conflito eclodiu.
Os voos comerciais, eletricidade e operações bancárias também foram restaurados nos últimos meses, enquanto a TPLF já começou a entregar as suas armas pesadas.
A guerra começou em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou uma ofensiva contra a TPLF em resposta a um ataque a uma base militar federal e na sequência de uma escalada de tensões políticas.
Milhares de pessoas foram mortas e cerca de dois milhões foram deslocadas pelo conflito.
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