Num 'briefing' perante o Conselho de Segurança, o coordenador humanitário da Organização das Nações Unidas (ONU), Martin Griffiths, explicou que é preciso chegar "a mais pessoas e com mais frequência", numa altura em que passa quase um ano desde a invasão russa e não há sinais de que a violência possa diminuir.
Griffiths chamou atenção especificamente para as dificuldades em levar apoio à população em áreas ocupadas pela Rússia.
"O acesso humanitário às áreas sob controlo militar temporário da Federação Russa tornou-se cada vez mais imprevisível e apresenta mais obstáculos", assinalou o representante da ONU, que lamentou que nenhum acordo tenha sido alcançado para passagem de qualquer caravana de ajuda desde as linhas de frente.
Griffiths lembrou que, com a aproximação do primeiro aniversário da invasão russa, mais de 7.000 mortes de civis foram confirmadas e cerca de 17,6 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária.
Além disso, quase oito milhões de pessoas fugiram para países vizinhos e cerca de 5,3 milhões estão deslocadas internamente, segundo dados da organização.
Embora tenha insistido na importância de fazer mais, Griffiths destacou o esforço humanitário em curso na Ucrânia, onde já foi prestado apoio a quase 16 milhões de pessoas - mais de 1,3 milhões delas em zonas não controladas por Kyiv - e onde trabalham mais de 650 organizações que cobrem todas as províncias.
A situação humanitária foi o foco da reunião sobre a Ucrânia realizada hoje no Conselho de Segurança, na qual, como já vem sendo habitual, a Rússia e as potências ocidentais voltaram a trocar acusações.
A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, denunciou os ataques russos às infraestruturas básicas ucranianas como forma de punir civis e acusou as tropas russas de agir contra organizações que prestam ajuda humanitária.
Além disso, voltou a denunciar a suposta transferência forçada de crianças ucranianas para a Rússia: "É difícil imaginar a crueldade de ser forçado a viver no país que matou os seus pais e ter que repetir a propaganda que pessoalmente lhe causou tanto sofrimento".
Em resposta, o vice-representante da Rússia na ONU, Dmitry Polyanskiy, enfatizou que dos cerca de oito milhões de ucranianos que deixaram o país, cerca de três milhões foram para a Rússia.
"Esta não é a deportação forçada de que falam os nossos colegas ocidentais. São pessoas que escolheram o seu futuro e que rejeitaram o regime de Kyiv", insistiu.
Repetindo um argumento habitual da liderança política russa, o diplomata também argumentou que são as armas fornecidas pela Europa e pelos Estados Unidos à Ucrânia que estão a prolongar o conflito e a dificultar as perspetivas de paz.
Leia Também: Autoridades ucranianas tentam prever regiões onde russos vão atacar