Primeiro-ministro timorense destaca na Austrália importância do café

O primeiro-ministro timorense recordou na Austrália a importância do café para o desenvolvimento de Timor-Leste, destacando os desafios que a produção ainda enfrenta e a necessidade de a reforçar.

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Lusa
08/02/2023 06:04 ‧ 08/02/2023 por Lusa

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Timor-Leste

"Não basta possuir um café de sabor extraordinário, pois temos o desafio de garantir o acesso a novos mercados muito competitivos, que requerem a mobilização de todos os intervenientes", afirmou Taur Matan Ruak, na noite de terça-feira em Camberra, onde está em visita oficial.

"Um dos desafios é o facto de termos perdido muita área potencial de produção do café. Recordo que no tempo da colonização portuguesa o café ocupava 72.000 hectares de solo arável, enquanto em 2021, apenas 50,000 hectares eram dedicados a esta produção. Pretendemos recuperar o espaço perdido e mesmo aumentar a presença do café a outros locais com elevado potencial para a sua produção", afirmou.

Taur Matan Ruak chegou na terça-feira a Camberra, onde participou no lançamento da nova loja "Origem Timor: os Sabores de Timor", iniciativa de Troy Huckstepp, um veterano que serviu como comando no 4º Batalhão do Regimento Real da Austrália, durante a missão da Administração Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste, e que agora é um dos promotores do café timorense na Austrália.

"É muito gratificante ver o seu empenho e o apoio da sua equipa, em favor do desenvolvimento económico da nossa jovem nação. O seu gesto demonstra os laços históricos de fraterna amizade que ligam Timor-Leste à Austrália e que remontam ao período da Segunda Guerra Mundial. Laços de sacrifício e de sangue com grande significado sentimental que muito nos apraz recordar, com o vosso carinhoso apoio", disse Taur Matan Ruak.

O Projeto Origem Timor "pretende ligar os produtores de café timorenses às empresas de importação, tratamento, torrefação e distribuição de cafés orgânicos de qualidade, no mercado australiano e regional, promovendo o intercâmbio de produtores, distribuidores e consumidores", explicou o Governo timorense em comunicado.

"A produção de café representa uma importante parte do nosso desenvolvimento, num momento em que procuramos melhorar a nossa resiliência nacional e alargar a diversificação da economia, como forma de reduzir a dependência excessiva dos rendimentos petrolíferos", disse o chefe do Governo.

"Um importante setor do café, que partilha com o turismo e a agricultura um enorme potencial de crescimento sustentável e duradouro da nossa economia. Uma importância do café que não se limita apenas a questões económicas, mas que está profundamente enraizado na tradição cultural das nossas gentes", acrescentou.

Taur Matan Ruak recordou o papel crucial que a região teve na produção de café a nível mundial, nomeadamente através do híbrido timor, que ajudou a salvar produções em vários países.

A história remonta ao início do século XX e a investigações levadas a cabo pelo Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC), na altura integrado na entretanto extinta Junta de Investigações Científicas do Ultramar e posteriormente no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

Essas primeiras investigações procuraram responder ao maior problema que afeta a produção mundial de café, a ferrugem alaranjada, a doença mais importante do cafeeiro Arábica, que pode causar perdas de produção superiores a 30%.

Causada pelo fungo 'Hemileia vastatrix', a doença infeta as folhas do cafeeiro, formando pústulas de cor alaranjada, o que pode provocar a queda prematura das folhas e enfraquecer a planta.

Especialistas notam que as raças fisiológicas da doença identificadas em Timor-Leste estão caracterizadas pelo CIFC como "das mais virulentas de todo o mundo".

Em 1927, uma descoberta numa plantação em Timor-Leste, na região de Ermera, a sul de Díli, levaria a uma das maiores revoluções nos programas mundiais de melhoramento genético do cafeeiro arábica.

A planta, um híbrido natural entre Arábica e Robusta, com resistência à ferrugem, mas com muito pouca produção, acabaria por se tornar a variedade dominante em Timor-Leste e, depois do seu estudo pelo CIFC a partir de 1957, chegaria a todo o mundo.

Foram feitos cruzamentos entre vários híbridos resistentes e cafeeiros de diferentes variedades comerciais, tais como a Caturra (proveniente do Brasil) e Villa Sarchi (proveniente da Costa Rica) que deram origem a populações de cafeeiros, conhecidas internacionalmente por "Catimor" e "Sarchimor", que apresentam elevada resistência à ferrugem, excelente produção e boa qualidade de bebida.

Atualmente, cerca de 99% das variedades de cafeeiros tipo Arábica, com resistência à ferrugem, cultivadas em todo o mundo, têm como progenitor resistente o Híbrido de Timor (HDT).

Leia Também: Governo timorense defende taxas para controlar consumo não saudável

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