"Biden partiu para este discurso sobre o Estado da União com um contexto muito particular, que soube explorar a seu favor, relançando o seu mandato para os próximos dois anos, já com a reeleição em mente", disse à agência Lusa Nuno Gouveia, especialista em política norte-americana.
Gouveia recorda que uma das qualidades políticas de Biden reside na sua capacidade de "derrotar expectativas", como aconteceu nas eleições intercalares do passado mês de novembro, quando todos esperavam uma derrota pesada dos democratas e acabaram por ser os republicanos a sofrer a perceção de um mau resultado.
Por isso, defende este analista, quando todos esperavam um discurso defensivo, perante uma economia afetada pela inflação, Biden apareceu ao ataque, salientando a "taxa de desemprego mais baixa em décadas", o controlo da inflação, a diminuição do preço dos combustíveis e o afastamento do cenário de recessão.
José Pedro Teixeira Fernandes, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI-NOVA), concorda com esta perspetiva e destaca a forma como Biden se centrou em temas domésticos, procurando criar clivagens entre os republicanos, para preparar o terreno para uma eventual recandidatura.
Este analista mostrou-se surpreendido com a forma como Biden quase fez evaporar as referências a temas de política externa e antes preferiu dirigir-se aos temas fraturantes da sociedade norte-americana, ao mesmo tempo que recuperava um discurso protecionista que tinha sido muito usado pelo ex-Presidente Donald Trump.
Um dos momentos mais ruidosos na reação às palavras do discurso do Estado da União aconteceu quando Biden denunciou que alguns entre os republicanos queriam fazer cortes na segurança social e no sistema de saúde para idosos.
"Biden aproveitou este momento e, já aplaudido por quase toda a sala, disse: 'Bem, então estamos de acordo que ninguém quer cortar na segurança social e no Medicare', revelando a eficácia do seu discurso", defendeu Nuno Gouveia.
Este analista, autor de vários livros sobre política norte-americana, salientou ainda o facto de o Presidente ter apelado por várias vezes ao trabalho bipartidário no Congresso, para o ajudar a terminar o trabalho, "dando a entender que ainda tem muito para fazer nos próximos seis anos".
Uma sondagem da estação televisiva CNN, junto de quem tinha assistido ao discurso do Estado da União, revelava que 72% tinha manifestado aprovação, o que Nuno Gouveia leu como "uma boa nota para o lançamento da sua campanha".
Como prova dessa estratégia, Gouveia lembra que Biden e a sua vice-Presidente, Kamala Harris, partem hoje para a estrada, com uma agenda de visitas em 20 estados.
Leia Também: "Capitalismo sem concorrência é exploração", diz Biden no Estado da União