"Nós vamos repor a ordem interna de mãos dadas com a nossa população, não podemos fazê-lo sozinhos, somos parte do nosso povo", afirmou o chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas do Peru, general Manuel Gómez de la Torre, à estação televisiva Canal N, na província nortenha de Piura.
O general explicou que, a partir do próximo domingo e "por decreto supremo", há sete regiões no sul, Madre de Dios, Cuzco, Puno, Apurímac, Arequipa, Moquegua e Tacna, onde foi decretado o estado de emergência pelo governo.
"Por decreto supremo, são sete as regiões do sul colocadas em estado de emergência, entre as quais Puno, controlada pelas Forças Armadas. A Polícia Nacional passa a fazer parte das mesmas, juntamente com as forças terrestres, aéreas, marítimas e as forças especiais", indicou, referindo-se à província que faz fronteira com a Bolívia e é o epicentro da contestação popular.
O decreto do estado de emergência do governo da presidente Dina Boluarte precisa que, em Puno, "o controlo da ordem interna se encontra a cargo das Forças Armadas, incorporando a Polícia Nacional do Peru para alcançar tal objetivo".
Questionado sobre a duração da presença das Forças Armadas em Puno, Gómez de la Torre afirmou que "nada foi militarizado" e que "a presença militar é a mesma", a única coisa que estão a fazer "ao destacar tropas é alcançar o número de efetivos" que costumavam ter sempre estacionados naquela zona.
"O que vamos intensificar é o trabalho de ações cívicas juntamente com o patrulhamento e controlo com base nas necessidades da população", e existe, como descreveu, "um controlo a cargo das Forças Armadas de mãos dadas com a população".
O responsável máximo das Forças Armadas peruanas especificou que estão a desbloquear ruas em que havia greves e piquetes, mas que se, em dois meses -- que é a duração do estado de emergência estipulada na Constituição -, a situação dos protestos persistir, este poderá ser prolongado por mais 60 dias.
O general reiterou que o importante para o Comando Conjunto é "fazer as coisas de acordo com as normas de direitos humanos" e evitar o confronto de peruanos contra peruanos.
"Criar obstáculos à livre circulação de qualquer cidadão é um crime, quem está a fazê-lo é um criminoso, por mais pacífico que seja", acrescentou, referindo-se aos manifestantes que erguem barricadas em ruas e estradas.
O mais recente relatório da Direção de Transporte Terrestre de Pessoas, Carga e Mercadorias mostra que há hoje no país 59 locais com o trânsito interrompido, que afetam quatro regiões e 13 estradas nacionais.
Os protestos no Peru contra o governo da presidente Dina Boluarte, que sucedeu ao destituído e detido Pedro Castillo, cumpriram na terça-feira passada dois meses, com um balanço de 58 mortos na repressão pelas forças policias e militares, para além de centenas de feridos e detidos. Ocorreu ainda a morte de um polícia, executado pelos manifestantes.
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