Tunísia. Oposição denuncia detenções e repressão do regime de Saied
A Frente de Salvação Nacional (FSN), principal coligação da oposição na Tunísia, denunciou hoje o "apodrecimento" da situação política no país após uma série de detenções num contexto de repressão aos meios políticos oposicionistas.
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Mundo Tunísia
Numa conferência de imprensa realizada hoje em Tunes, o presidente da FSN, Ahmed Nejib Chebbi, adiantou que foram detidos, desde sábado, dez personalidades, a maioria opositoras ligadas ao partido de inspiração islâmica Ennahdha e respetivos aliados, bem como o diretor de uma grande rádio privada e um empresário muito influente.
"Estas detenções, feitas através de procedimentos violentos e ilegais (...) estão a levar a Tunísia a um estado de decadência política", lamentou Nejib Chebbi, que considerou tratar-se de uma "vingança" contra os opositores e que o recurso à "repressão" reflete "a confusão" da política do Presidente tunisino, Kais Saied, que assumiu plenos poderes em julho de 2021.
"O país está em crise e o Governo só pensa em livrar-se dos opositores", acrescentou Chebbi, apelando a todos os partidos políticos do país a unirem-se para tirar a Tunísia do clima de repressão.
O ativista político Khayam Turki e o influente empresário Kamel Eltaïef, ligados aos meios políticos da oposição, o ex-ministro Lazhar Akremi e o ex-líder do movimento Ennahdha Abdelhamid Jelassi foram presos sob suspeita de "conspirar contra a segurança do Estado", disse o advogado Samir Dilou.
O líder do Ennahdha, Noureddine Bhiri, foi preso por ter apelado na rede social Facebook à realização de manifestações contra as políticas de Saied, afirmou Chebbi.
Num comunicado de imprensa hoje divulgado, a central sindical da União Geral dos Trabalhadores Tunisinos (UGTT) também condenou o que classificou como detenções "aleatórias" e "tentativas de forjar acusações (...) na ausência de qualquer informação oficial sobre a natureza" das detenções.
A UGTT também denunciou a intenção do Governo de "abafar qualquer voz independente ou de oposição" publicada na imprensa do país e apelou aos sindicatos para "se mobilizarem e prepararem-se para defender os direitos dos tunisinos".
Organizações não-governamentais (ONG) locais e figuras da sociedade civil denunciaram, por seu lado, "a instrumentalização dos aparelhos do Estado para acertar contas com os opositores", exortando Saied a "parar com o discurso de incitação contra os opositores".
"Aqueles que foram presos são terroristas e devem ser julgados (...). Não vamos deixar a Tunísia ser vítima desses terroristas criminosos", disse Saied durante uma visita, na noite de terça-feira, à sede do Ministério do Interior, em Tunes.
Respondendo às críticas, Saied disse que as autoridades respeitam os "direitos humanos" e que as recentes detenções "não têm absolutamente nada a ver com direitos e liberdades".
A onda de detenções de dirigentes da oposição e de personalidades críticas ao regime de Saied surge numa altura em que o Presidente tunisino continua a construir o seu sistema ultra presidencialista, ignorando o boicote maciço a todos os prazos eleitorais e consultivos que deveriam balizar este processo.
A atuação de Saied surge num contexto em que apenas cerca de 11% dos pouco mais de nove milhões de eleitores votou nas duas voltas das eleições legislativas tunisinas -- a primeira a 17 de dezembro de 2022 e a segunda a 29 de janeiro deste ano -- que foram boicotadas pela oposição e que elegeu um parlamento com prerrogativas muito limitadas.
A Tunísia está confrontada com fortes divisões políticas, depois de o Presidente ter acumulado todos os poderes, em julho de 2021, antes de rever a Constituição um ano depois, regressando a um sistema ultra presidencialista similar ao de antes da Revolução de 2011 e da queda de antigo ditador Zine el-Abidine Ben Ali.
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