Um ano de guerra na Ucrânia: Putin "faz bluff" com ameaça nuclear

A ameaça de escalada nuclear da guerra na Ucrânia é "bluff" e uma estratégia dissuasiva do presidente russo Vladimir Putin, defendeu à Lusa a cientista política ucraniana Nataliia Kasianenko, professora na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno.

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© Mustafa Ciftci/Anadolu Agency via Getty Images

Lusa
20/02/2023 08:22 ‧ 20/02/2023 por Lusa

Mundo

Guerra na Ucrânia

"Penso francamente que Putin está a fazer bluff no que toca a armas nucleares e ao poder nuclear", afirmou a analista, em entrevista. "É a única coisa que a Rússia pode usar como dissuasivo do Ocidente, contra o poder militar ocidental". 

Quase um ano depois da invasão da Ucrânia, tem havido alusões a uma escalada tanto por parte de Putin como dos seus aliados. Em janeiro, o vice-presidente do Conselho de Segurança russo, Dmitry Medvedev, avisou que "a derrota de um poder nuclear numa guerra convencional pode desencadear uma guerra nuclear". 

Mas a politóloga Nataliia Kasianenko analisa as ameaças no contexto de um conflito que não correu como esperado pelo Kremlin e uma aliança mais forte que o previsto em torno da Ucrânia. 

"Acredito que o presidente russo está a usar a carta nuclear de forma a ameaçar o Ocidente e evitar que os países ocidentais ofereçam mais apoio ao povo ucraniano", disse. "Penso, francamente, que o presidente entende que se tentar usar armas nucleares a retaliação vai ser forte e Putin não poderá sobreviver a isso". 

Um perigo mais imediato, considerou, é a preparação de um ataque renovado para coincidir com o primeiro aniversário da invasão de 24 de fevereiro de 2022. 

"Estamos preocupados porque ouvimos falar de planos de novos avanços do lado russo e há tropas a serem reunidas na fronteira", disse Kasianenko, referindo relatos de 300 a 500 mil militares preparados para voltar a entrar. 

"Sabemos que o presidente Putin adora aniversários, por isso esta data de 24 de fevereiro é algo que os ucranianos não estão ansiosos por ver", continuou. "Há muitos receios de que haja uma nova tentativa de invasão alargada para tomar a capital Kiev". 

A sombra de uma escalada na guerra paira sobre uma situação interna difícil na Rússia, embora Kasianenko afaste a ideia de que Putin possa ser desafiado. 

"Houve muita discussão sobre a erosão do poder e as lutas internas na Rússia em 2022", referiu. "Alguns otimistas acreditavam que talvez os generais percebessem que o plano de Putin de ocupar a Ucrânia em poucos dias falhou e tentariam tomar o poder. Não vimos isso a materializar-se". 

A analista disse que a ideia de que Putin estaria sozinho na sua determinação de ocupar a Ucrânia não corresponde à realidade. "Tem apoiantes e as elites que o alimentam com certas narrativas, que lhe dizem que a Rússia pode e vai ganhar esta guerra", continuou. "Não estou otimista quanto a um golpe, não estou otimista que haverá uma revolução na Rússia que tire Putin do poder". 

Kasianenko frisou que os russos que são contra a guerra já deixaram o país, numa vaga de fugas que atingiu os milhões desde o início do conflito. "As outras pessoas estão em silêncio e a tentar evitar a política, porque têm medo", frisou. "A natureza da opressão na Rússia intensificou-se de forma dramática desde a primavera de 2022". 

A solidez da aliança transatlântica também contribuiu para o isolamento russo. Apesar da discussão nos círculos políticos -- dos Estados Unidos a alguns países europeus -- o apoio tem-se mantido consistente. A própria China, que até aumentou o consumo de energia russa, não se colocou em definitivo ao lado do Kremlin como se temia. 

"A China tem tentado andar na linha e basicamente apelar aos dois lados, ao Ocidente e à Rússia", disse Kasianenko. "Em termos de apoio militar e diplomacia, parece que os chineses estão a enviar uma mensagem de que a guerra não é uma coisa boa para a comunidade global e os chineses prefeririam ver a guerra a terminar". 

Natural de Kharkiv, no leste da Ucrânia, Kasianenko acredita que Putin só estaria disposto a terminar o conflito agora se a Rússia pudesse manter os territórios que ocupou. 

"Mas esses não são termos que os ucranianos estariam dispostos a aceitar, considerando quantas pessoas morreram a lutar pela Ucrânia e o facto de que uma percentagem tão grande do território foi brutalmente ocupada", afirmou. "Os ucranianos não estão disponíveis para negociar nesses termos. Não é apenas uma questão de parar o conflito e a guerra, é o custo para a Ucrânia".  

Leia Também: Um ano de guerra na Ucrânia: As frases que marcaram o conflito

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