Yaryna Arieva e Sviatoslav Fursin 'apressaram-se' a casar quando a guerra começou no seu país, a 24 de fevereiro do ano passado. O casal de ucranianos tinha data marcada para maio, mas decidiu antecipar os votos - porque não sabiam o que podia acontecer depois.
"Lembro-me da cerimónia e de ter uma sensação de não saber nada. Aquele futuro imprevisível e realmente assustador", explicou Yaryna à CNN, numa reportagem publicada esta quinta-feira.
À publicação norte-americana o casal contou como foi viver o último ano enquanto o seu país está em guerra, e sublinhou que, apesar de assinalar, na sexta-feira, o seu primeiro ano de casados, não há muito para festejar. "Já passou um ano e todas as memórias começam a regressar", explica a jovem, de 22 anos, na sua casa, em Kyiv, acrescentando que evitou durante meses, por exemplo, usar um fato que comprou antes do casamento, o que a fazia lembrar da guerra. "Não são memórias que queira ter na cabeça a toda a hora", justificou.
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Em vez de uma lua de mel o casal voluntariou-se nesse mesmo dia para o combate na guerra na Ucrânia. Enquanto Yaryna Arieva tinha um cargo em 'part-time' como vereadora em Kyiv, Sviatoslav Fursin foi para a frente de batalha. "Na primeira noite nós não estávamos prontos. Não tínhamos trincheiras, nada", referiu o jovem, que tem agora 25 anos.
Fursin foi escolhido para liderar um grupo de dez pessoas, decisão que foi tomada porque o jovem era o único que já tinha manuseado uma arma automática antes da invasão. "O comandante viu como eu usava a arma e disse: 'Leva estas pessoas e construam abrigos e posições de emboscada e pensem a forma como podem escapar", contou.
Enquanto o marido escavava trincheiras durante "toda a noite", Yaryna conta como essa madrugada foi a mais temerosa que já viveu. "A primeira noite em que estava à espera do meu marido, quando foi para a frente de batalha, pensei que esta era a noite mais assustadora da sua vida. Claro que não lhe podia ligar porque ele teve de desligar o telemóvel", recordou.
O jovem ficou na frente de batalha durante um mês e meio, enquanto a mulher estava a trabalhar num escritório na capital ucraniana. "Quando imaginamos esse tempo nos sonhos parece que foi tão heroico e forte. E a verdade é que tomávamos banho uma vez por semana porque não havia chuveiros lá e não era muito agradável, com a privação de sono e comida", assume a jovem voluntária.
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Fursin conta ainda que esta invasão é a segunda por que passa, já que este cresceu na península da Crimeia, reclamada pelas tropas russas agora, e invadida em 2014. "Lembro-me de como o local mudou depois disso. Costumávamos brincar e dizer que íamos dormir num país e acordar noutro", contou, explicando que três anos depois a família decidiu ir para Irpin.
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Um ano depois, Arieva conta que é uma pessoa completamente diferente. "Tornei-me menos ingénua e menos infantil. E talvez esteja um pouco mais forte. Porque o que não nos mata torna-nos mais fortes", defendeu.
O casal refere ainda que "parece que se passaram 40 anos" desde que a invasão começou. "Só quando se vê algo como isto é que se percebe o valor da vida", continuou Já Fursin concordou que também não é a mesma pessoa. "Depois daquilo por que passámos, percebo que somos pessoas completamente diferentes. E percebo também que nos continuamos a amar - e esse é, talvez, o maior sinal de que isto é amor verdadeiro", rematou.
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