"O acordo-quadro de Windsor tem de ser considerado como um acordo mais rígido do que o Protocolo da Irlanda do Norte, porque permite agora que o Reino Unido divirja na Irlanda do Norte em matéria de tributação, de ajudas estatais e abre a possibilidade de outras formas de divergência", afirmou o politólogo John Curtice, da Universidade de Strathclyde.
Este analista falava num seminário organizado pelo centro de estudos UK in a Changing Europe sobre a mudança na opinião pública sobre o 'Brexit' e a possibilidade de o Reino Unido voltar a aderir à ao bloco.
Curtice apontou para a contradição de, ao abrir caminho a uma maior divergência, o Reino Unido estar a melhorar as relações com a UE com este novo acordo.
"A curto prazo, voltar a aderir [à UE] não está na mesa política, mas suavizar o 'Brexit' potencialmente está, e isto [acordo] pode criar mais espaço para o fazer", vincou.
Também a professora de Direito da Universidade de Cambridge, Catherine Barnard, considerou haver sinais de que existe maior confiança e uma "química pessoal" entre o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
"Mas isto não deve ser sobrestimado para de repente ficarmos a pensar que o Reino Unido vai voltar a aderir à UE", avisou.
Para o diretor do UK in a Changing Europe, Anand Menon, o acordo deixa o Partido Trabalhista e o Partido Conservadore próximos no que diz respeito às posições sobre o Brexit.
O principal partido da oposição é mais pró-europeu, mas este académico está convencido de que "os trabalhistas não avançarão de certeza para a 'readesão' após as próximas eleições", previstas para 2024.
"Os verdadeiros problemas económicos relacionados com o Brexit têm a ver com [não] fazer parte do mercado único. E penso que é bastante claro que os trabalhistas não querem ir nessa direção", disse.
Sunak e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentaram na segunda-feira em Windsor um acordo-quadro que elimina controlos aduaneiros para as mercadorias que circulam entre o Reino Unido e a Irlanda do Norte, mas mantém-nos para aquelas que vão para a República da Irlanda.
O acordo pretende resolver problemas causados pelo Protocolo da Irlanda do Norte, parte do Acordo de Saída do Reino Unido da União Europeia (UE), que deixava a província britânica alinhada com o mercado único europeu.
Este texto foi a solução encontrada para evitar uma fronteira física terrestre entre a província britânica e a República da Irlanda, país membros da UE, de forma a respeitar os acordos de paz de 1998.
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