Peru. Castillo nega "categoricamente" pertencer a rede criminosa

O ex-presidente do Peru, Pedro Castillo, negou hoje "rotunda e categoricamente" que tenha participado numa organização criminosa durante o seu mandato (2021-2022), como acusa a procuradoria, que pretende prolongar a sua prisão preventiva para 36 meses.

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© Artur Widak/NurPhoto via Getty Images

Lusa
07/03/2023 21:21 ‧ 07/03/2023 por Lusa

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"Nego rotunda e categoricamente que seja o autor ou tenha feito parte de uma rede criminosa. O único delito que cometi foi servir o meu país como Presidente da República", assinalou Castillo no decurso de uma audiência virtual, a partir da prisão, convocada pelo juiz supremo Juan Carlos Checkley.

O ex-governante, que desde dezembro cumpre outra ordem de 18 meses de prisão preventiva por tentativa de golpe de Estado destinado a governar por decreto, dissolver um Congresso hostil e convocar no imediato eleições para uma assembleia constituinte, acrescentou que "foi elaborado um castelo de supostos delitos" contra si com a participação de "colaboradores comprados".

A procuradoria pediu outros 36 meses de prisão preventiva, e quando Castillo já cumpre uma ordem que, assegurou, o mantém "injustamente sequestrado".

Castillo disse estar privado de liberdade "assumindo uma situação de 'complot' que existe, uma pressão mediática", e pediu "que demonstrem" as acusações que lhe foram dirigidas.

Também contestou o facto de o pedido da procuradoria se basear num possível perigo de fuga e quando, segundo disse, se encontra "numa prisão de alta segurança" e não tem apoio familiar, pelo facto de a sua mulher e os seus filhos estarem exilados no México.

"Não há perigo de fuga, hoje o meu domicílio é este lugar [a prisão]", reiterou, antes de dizer ao juiz que "tem de demonstrar que está do lado do povo e não do lado dos inimigos".

Castillo, que compareceu nesta audiência virtual acompanhado pelo seu advogado, Eduardo Pachas, cumpre 18 meses de prisão preventiva desde 16 de dezembro passado, quando esta medida foi emitida enquanto se anunciavam investigações por delitos de rebelião e conspiração por ter tentado um autogolpe de Estado em 07 de dezembro.

Durante a audiência de hoje, a procuradora Galinka Mesa assinalou que Castillo é considerado o presumível autor de delito contra a ordem pública na modalidade de organização criminosa, de tráfico de influências e como cúmplice de delito contra a administração pública, na modalidade de conluio.

A magistrada acrescentou que esta situação "foi agravada pela sua condição de líder" e que a suposta organização criminosa começou a ser criada durante a segunda volta das presidenciais, em junho de 2021, e que uma segunda etapa ocorreu "antes de assumir a presidência" e que "procurou bloquear as instituições do Estado com a finalidade de direcionar os procedimentos de contratação pública".

O juiz Checkley retomou o pedido da procuradoria para o agravamento da prisão preventiva, após a ter suspendido em 03 de março a pedido da defesa, que pretendia mais tempo para estudar o extenso 'dossier' de 6.000 páginas e 13 partes.

O Ministério Público também solicitou 36 meses de prisão preventiva para os ex-ministros dos Transportes e da Habitação, respetivamente Juan Silva Villegas e Geiner Alvarado López.

Silva Villegas, que se encontra em fuga desde 2022, é acusado do delito de organização criminosa e conluio simples, enquanto Alvarado foi assinalado como presumível autor de delito de organização criminosa.

O processo refere-se a alegadas irregularidades detetadas em obras na Ponte Tarata II, na região nortenha de San Martín, e em outros casos suspeitos de corrupção relacionados com a empresa pública Petroperú e o Ministério da Habitação.

No final da audiência, o juiz Checkley anunciou que comunicará a sua decisão a partir as 15:00 locais (20:00 em Lisboa) da próxima quinta-feira.

Na sequência da detenção de Castillo registaram-se fortes mobilizações populares que exigiram a sua libertação, a demissão da sua vice-presidente Dina Boluarte, que assumiu a chefia do Estado, a antecipação das eleições, a dissolução do parlamento e a convocação de uma assembleia constituinte.

Apesar de uma pausa nos protestos nas últimas semanas - que registam um balanço de pelo menos 60 mortos e centenas de feridos e detidos em particular devido à atuação das forças policiais e militares - diversos observadores admitem um regresso a curto prazo das mobilizações populares.

A crise política que abala o Peru é também reflexo do enorme fosso entre a capital e as províncias pobres que apoiam Castillo, de origem ameríndia, que nunca foi aceite no Palácio Presidencial pela elite e a oligarquia da capital, e pelos principais 'media' na posse de empresários milionários.

Num relatório divulgado em finais de fevereiro, a Amnistia Internacional (AI) denunciou a "violenta repressão do Estado" peruano contra os protestos antigovernamentais no país e o "uso indiscriminado de armas letais" contra manifestantes, para além de detenções arbitrárias e outras violações dos direitos humanos, incluindo alegadas execuções extrajudiciais.

Leia Também: Peru. Boluarte assume formalmente comando das Forças Armadas e Polícia

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