Em declarações à Lusa, o professor de Geopolítica e Geoestratégica da Universidade Católica recordou que "esta é a batalha mais longa pelo controlo de uma cidade" desde o início da invasão russa, tendo as forças de Moscovo iniciado os ataques em maio do ano passado, que se intensificaram em agosto, com elevadas baixas de parte a parte.
"Estamos em março e isto mostra, sobretudo, a enorme dificuldade que as forças russas têm tido de levar a cabo operações militares complexas" e "também mostra a capacidade que a Ucrânia tem tido de levar a cabo uma estratégia defensiva nesta guerra", disse o analista.
Nesse sentido, Monjardino, que lançou recentemente o livro 'Por irá a História?', alerta que a atenção está "muito centrada no momento" e não tanto na longa duração do conflito e o significado do ponto de vista militar.
Vários analistas têm demonstrado opiniões diversas sobre a importância estratégica de Bakhmut, e Miguel Monjardino concorda que os sinais são contraditórios.
A conquista da cidade é politicamente importante para Moscovo, porque "permitiria no fim de contas controlar mais um ponto geográfico na região de Donetsk" e ser "apresentada como uma grande vitória política da Rússia".
Por outro lado, ambas as partes parecem ter a mesma ideia, ou seja, de que Bakhmut faz parte de "uma guerra de atrito" que prejudica mais o outro lado do que o seu.
Do ponto de vista ucraniano, esta longa campanha "terá permitido impor baixas muito pesadas às forças russas" e justifica-se a continuação desta batalha, "mas do ponto de vista de Moscovo também é possível pensar da mesma forma" ao fixar o exército de Kiev num determinado ponto e a empenhar mais unidades militares do que aquelas que seria normal noutras circunstâncias.
A grande questão daqui para a frente, segundo Miguel Monjardino "é saber qual é o lado que perdeu mais forças militares e mais equipamento nesta longuíssima batalha" e que consequências terá para a continuação da guerra.
Num primeiro momento, a Ucrânia conseguiu reforçar as suas posições defensivas nas cidades que estão logo a seguir a Bakhmut e estas linhas, apontou, "deverão ser bastante fortes, até porque algumas destas cidades estão num ponto mais elevado".
No entanto, ignora-se se Kiev empenhou ou não reservas significativas na defesa de Bakhmut e o impacto que isso terá numa contraofensiva ucraniana que se anuncia e "o ponto de vista norte-americano e claramente da NATO parece ser que "chegou a altura de a Ucrânia retirar" da cidade.
Quanto à também esperada ofensiva russa, Miguel Monjardino é da opinião de que, na verdade, ela já começou no início do ano, mas com ganhos modestos.
"Quando nós olhamos para os números ou área geográfica conquistada no mês de fevereiro - penso que anda apenas à roda de 85 quilómetros quadrados - isso é muito pouco território para um ofensiva tão grande, o que parece indiciar uma grande dificuldade russa em levar a cabo uma manobra ofensiva complexa", defendeu.
Mais uma vez, será preciso esperar para observar se os dados no terreno "confirmam isto ou não", embora seja claro para o analista, que, "olhando para os meses em que esta ofensiva já teve lugar, os resultados não parecem ser aqueles que a Rússia obviamente esperava".
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