Numa declaração publicada hoje na rede social Twitter, o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) referiu que mais de 20.000 pessoas foram deslocadas na província do Kivu do Norte pelos "confrontos recentes" entre o exército congolês e as forças suas aliadas e o M23.
Os residentes na zona de Kibirizi, situada a cerca de 120 quilómetros de Goma, a capital provincial do Kivu do Norte, fugiram devido aos combates nas aldeias vizinhas.
No ano passado, "mais de 800.000 pessoas foram deslocadas por novos combates entre as forças congolesas e o M23, de acordo com as autoridades e os parceiros humanitários", afirmou o OCHA.
A agência da ONU instou todas as partes em conflito a "respeitarem o direito humanitário internacional, protegerem os civis e assegurarem o acesso às populações que necessitam de assistência humanitária".
A declaração foi emitida depois de o exército congolês e o M23 se terem acusado reciprocamente na terça-feira manterem os combates em violação do cessar-fogo acordado na última sexta-feira em Angola, país nomeado pela União Africana (UA) para mediar conflito, cujo início estava agendado para terça-feira às 12:00 locais (10:00 TMG).
O cessar-fogo foi declarado várias vezes desde a reativação do M23 em novembro de 2021, sem nunca até agora ter sido honrado, os combates foram escalando, e as tensões entre a RDCongo e o Ruanda, a quem Kinshasa acusa de apoiar o movimento rebelde, foram ganhando o palco regional e depois mundial.
Em junho de 2022, os líderes da Comunidade Este-Africana (EAC, na sigla em inglês] -- Burundi, Quénia, Ruanda, Sudão do Sul, Tanzânia e Uganda - reuniram-se numa cimeira de emergência e concordaram em enviar uma força regional para a RDCongo, com a permissão de Kinshasa, para enfrentar a crise criada pelo ressurgimento do M23.
O Ruanda tem negado sempre esta colaboração, apesar de peritos da ONU a terem confirmado, ao mesmo tempo que acusa o exército congolês de se aliar às Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), fundadas em 2000 por líderes do genocídio de 1994 e outros ruandeses exilados na RDCongo para recuperarem o poder político no seu país natal - uma cooperação também confirmada pela ONU.
Os dois países solicitaram a intervenção do Mecanismo Reforçado de Verificação Conjunta (EJVM, na sigla em inglês), estabelecido pela CIRGL (Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos) para investigar incidentes de segurança nos seus 12 Estados-membros.
O movimento M23 foi criado em 04 de abril de 2012, quando soldados congoleses se revoltaram contra a perda do poder do seu líder, Bosco Ntaganda, acusado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de crimes de guerra por alegadas violações do acordo de paz de 23 de março de 2009, data que deu o nome ao movimento.
O nascimento do grupo assentou na exigência de uma renegociação do acordo assinado pela guerrilha congolesa Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), nomeadamente das condições relativas à sua integração no exército do Ruanda.
O CNDP, constituído principalmente por tutsis (etnia que sofreu o genocídio ruandês às mãos dos hutus em 1994), foi formado em 2006 para, entre outros objetivos, combater os hutus das Forças Democráticas para a Libertação do Ruanda (FDLR), um grupo que se refugiou nas selvas congolesas após o genocídio.
Em 2012, o M23 ocupou Goma, capital da província do nordeste congolês do Kivu do Norte, durante duas semanas, mas a pressão internacional obrigou o movimento rebelde a retirar-se e a iniciar negociações de paz com o Governo da RDCongo em Kinshasa.
Durante mais de duas décadas, o leste da RDCongo tem registado conflitos alimentados por milícias rebeldes e ataques do exército congolês, apesar da presença da missão de manutenção de paz da ONU (MONUSCO), que conta com mais de 14.000 soldados no país.
Leia Também: Conselho de Segurança da ONU parte para missão de visita à RDCongo