"O filme que fizemos é sobre uma guerra que causou muitos deslocados", disse Edward Berger na sala de entrevistas, depois de 'A Oeste Nada de Novo' vencer o Óscar de Melhor Filme Internacional.
"A história alemã causou muitos deslocados e penso que é nossa responsabilidade, em especial na Alemanha, ajudar refugiados da Ucrânia", considerou o cineasta. "Para retribuir em termos do que nos foi dado, pessoas também acolhidas na América que tiveram de fugir da Alemanha na II Guerra Mundial".
Berger, tal como vários outros nomeados na 95.ª cerimónia de entrega dos prémios da Academia, levou uma fita azul na lapela que inicialmente alguns jornalistas confundiram com a bandeira da Ucrânia.
"É uma fita que temos da organização de refugiados das Nações Unidas e é para apoiar os refugiados e os deslocados, agora mais que nunca", frisou Berger.
O filme em língua alemã 'A Oeste Nada de Novo', que faz um retrato cruel e sombrio da I Guerra Mundial, foi um dos grandes vencedores dos Óscares, triunfando como Melhor Filme Internacional, Melhor Fotografia, Melhor Banda Sonora e Melhor Direção de Arte.
As comparações entre os acontecimentos trágicos do filme, situado em 1917, e a guerra que continua a assolar a Ucrânia foram abordadas várias vezes nos bastidores da cerimónia.
"Quando estávamos a filmar, obviamente a guerra na Ucrânia ainda não existia, mas a guerra em geral é muito presente e histórica e é uma lição com a qual podemos aprender", afirmou James Friend, que recebeu o Óscar de Melhor Fotografia.
"É absolutamente terrível, para ser honesto. E eles deviam ter vergonha", afirmou.
Friend disse que o principal objetivo era retratar no filme aquilo que a guerra nos faz sentir. "Não deve parecer linda. Deve parecer horrífica", descreveu. "Este filme é a coisa mais próxima de um filme de terror".
O realizador Edward Berger mostrou-se grato pelo facto de a Academia ter reconhecido o filme e aquilo que tenta fazer.
"Tentámos fazer um filme sobre o nosso passado, sobre a nossa responsabilidade na Alemanha pela nossa história e agenda", indicou. "A nossa vontade era falar sobre a culpa e vergonha e o terror que as duas guerras causaram no mundo", continuou.
Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o filme baseado no livro homónimo de Erich Maria Remarque, de 1929, adquiriu um significado adicional.
"E então, de repente, quando terminámos o filme tornou-se também sobre o presente. Novos terrores que irromperam, que nunca pensámos que aconteceriam novamente na Europa", disse o realizador. "Espero que o livro, se continuarmos a relê-lo, tenha um papel nalgum momento e paremos de cometer os mesmos erros repetidamente no futuro".
A cerimónia também premiou o documentário da CNN 'Navalny', sobre a tentativa de assassinato do opositor político de Vladimir Putin, Alexei Navalny.
"Quero que o mundo se lembre que Alexei Navalny está a definhar na prisão", disse o realizador Daniel Roher nos bastidores. "Está em prisão solitária perpétua, e a razão pela qual está em condições horrendas é porque ele é o opositor número um desta guerra na Rússia", afirmou. "Ele é o homem que se opõe à guerra brutal de Putin na Ucrânia".
Roher disse que fez um filme sobre o líder da oposição russa e da sua missão de instalar a democracia na Rússia, mas que não foi só para os russos. "É para todas as pessoas no mundo que vivem num contexto onde as marés de autoritarismo vêm e vão", continuou.
"O que queremos que o nosso filme lembre ao mundo é que todos temos de estar em guarda pelos valores em que acreditamos e as vidas que queremos viver, e são valores democráticos".
A 95.ª cerimónia dos prémios da Academia decorreu no Dolby Theatre, em Los Angeles, com 'Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo' a ser o grande vencedor com sete Óscares, incluindo Melhor Filme.
'A Oeste Nada de Novo' foi o outro grande vencedor, com quatro estatuetas.
Em contraste, 'Os Espíritos de Inisherin' (nove nomeações), 'Elvis' (oito nomeações), 'Os Fabelmans' (sete nomeações) e 'Tár' (seis nomeações) saíram de mãos a abanar.
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