Associações avisam para efeitos económicos negativos das deportações

Nos dias que se seguiram a uma rusga surpresa da patrulha de fronteira em Bakersfield, interior da Califórnia, vários hectares de laranjeiras ficaram ao abandono, sem trabalhadores para colher as laranjas.

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Lusa
31/01/2025 07:39 ‧ há 2 horas por Lusa

Mundo

Estados Unidos

Os agentes detiveram cerca de 200 pessoas nesse dia e em pouco tempo pelo menos 40 já estavam a caminho de Mexicali, repatriadas para o México por não terem documentos de imigração para os Estados Unidos. 

 

"Sabemos que as rusgas no condado de Kern foram dirigidas aos trabalhadores agrícolas", disse à agência Lusa Eva Bítran, diretora de direitos dos imigrantes e advogada da ACLU (American Civil Liberties Union) do Sul da Califórnia. 

"Posicionaram-se nas estradas que levavam às grandes propriedades de manhã cedo, quando as pessoas estavam a ir para o trabalho", relatou a advogada.

Nesse dia, também foram detidas pessoas no Home Depot, uma grande loja de bricolage onde tarefeiros aparecem diariamente à procura de biscates. 

"Sabemos que há imigrantes em todos os setores da sociedade e da força laboral", disse Eva Bitrán, acrescentando: "Mas alguns tendem a ser mais escrutinados que outros".

As estimativas do Center for Farmworker Families indicam que há entre 500.000 e 800.000 trabalhadores agrícolas na Califórnia, um terço do total do país. Destes, calcula-se que metade seja imigrantes sem documentos, a maioria de origem mexicana. 

Sendo um estado que produz 350 tipo de cultivos, incluindo 90% de todos os morangos consumidos nos Estados Unidos, a indústria agrícola da Califórnia depende da força laboral indocumentada para continuar a funcionar.

"Entre as perigosas consequências deste tipo de rusgas de imigração pode estar um efeito inibidor no local de trabalho", disse o diretor de comunicações do sindicato United Farm Workers, Antonio De Loera-Brust, sobre a ação em Bakersfield.

 Já Ambar Tovar, diretora da UFW Foundation, chamou aos agricultores "a espinha dorsal da cadeia de abastecimento alimentar na América" e acusou os agentes de quererem destruí-la. 

As organizações estão a conduzir iniciativas para orientar e informar os trabalhadores, para que saibam o que fazer no caso de uma rusga, já que não se podem dar ao luxo de parar de trabalhar e cumprir obrigações. 

Desde que começaram as rusgas, com ampla cobertura mediática, especialistas em economia e associações setoriais avisaram para os impactos negativos das deportações em massa prometidas pela administração do Presidente republicano Donald Trump, dado o número de trabalhadores indocumentados que trabalham em áreas como agricultura, serviços domésticos e construção. 

"Quando se prende um trabalhador agrícola, um condutor de camiões, um tarefeiro doméstico, um trabalhador da construção, isso vai ter impactos em todos os bairros", considerou Jorge-Mario Cabrera, diretor de comunicação da CHIRLA - Coalition for Humane Immigrant Rights. 

"Olhem para o que está a acontecer em Los Angeles: 15 mil propriedades arderam", apontou, referindo-se aos incêndios de grandes proporções que atingiram o condado durante o mês de janeiro.

"Quem é que pensam que vai reconstruir essas propriedades? Provavelmente, e mais uma vez, serão pessoas de cor, imigrantes filipinos, mexicanos, latinos que vão dar cabo das costas a reconstruir Los Angeles", salientou o representante.

Na Califórnia, 40% dos empregados de empresas de construção são imigrantes. O National Immigration Forum estima que cerca de 20% são indocumentados, em média, em todo o país. O Pew Research Center indica uma percentagem mais modesta, 13%.

Mas esta é uma indústria que tem dificuldade em preencher vagas, havendo cerca de 370.000 em aberto, de acordo com dados do governo federal.

Jim Tobin, diretor-executivo (CEO) da National Association of Home Builders, afirmou em declarações à estação norte-americana NBC que as deportações seriam "prejudiciais" para a indústria e agravariam os problemas de habitação acessível. 

Um dos problemas é que os imigrantes, com ou sem documentos, ganham menos que os nascidos nos Estados Unidos (cerca de 786 contra 1.031 dólares por semana, em média). Isto tornaria oneroso substituí-los.

O California Immigrant Data Portal indica que trabalhadores nascidos nos Estados Unidos recebem 30 dólares à hora, contra 24 dólares para imigrantes com documentos e 16 dólares para indocumentados.

O professor de economia internacional da Universidade da Califórnia em Davis, Giovanni Peri, avisou que se os imigrantes indocumentados "desaparecerem como por magia", cerca de 10% da produção no estado vai ser eliminada.

"Estamos a falar de centenas de milhares de milhões de dólares", disse, citado pelo órgão regional Cal Matters. 

Além de agricultores e construção, também há muitos imigrantes sem documentos em áreas como cuidados infantis e de terceira idade, jardinagem e serviços de restauração. 

Leia Também: Comunidade de imigrantes sem documentos está em alerta na Califórnia

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