Mendicidade? Líderes muçulmanos guineenses pedem "boa solução"
Os líderes da comunidade muçulmana da Guiné-Bissau apelaram hoje ao Presidente do país para encontrar "uma boa solução" para a questão da mendicidade de crianças, prática que Umaro Sissoco Embaló proibiu a partir da próxima segunda-feira.
© Lusa
Mundo Guiné-Bissau
Em conferência de imprensa conjunta, o presidente da União Nacional de Imames da Guiné-Bissau, Suleimane Embaló, e o líder da Associação de Pais e Mestres Corânicos, Mussá Kebe, afirmam que vão respeitar a ordem do chefe de Estado, mas também pedem que Sissoco Embaló os ajude a encontrar "uma boa solução" para o problema.
Na segunda-feira, a ministra da Mulher, Família e Solidariedade Social, Conceição Évora, anunciou que a partir de 27 de março entra em vigor a ordem dada pelo Presidente guineense.
Umaro Sissoco Embaló ordenou ao ministro do Interior, que é também vice-primeiro-ministro, Soares Sambu, a prender o pai ou mestre corânico (professor do Corão) de qualquer criança apanhada na rua na mendicidade.
Centenas de crianças deambulam pelas ruas de Bissau e nas capitais de países vizinhos na mendicidade quando deixam as suas casas para aprender o Corão.
Desde o pronunciamento da ordem do Presidente guineense, vários mestres corânicos têm vindo a apelar no sentido de o chefe de Estado compreender a sua situação de dificuldade para sustentar as crianças que são mandadas para 'Daras' (escolas corânicas tradicionais).
O presidente da Associação de Pais e Mestres Corânicos da Guiné-Bissau, Mussá Kebe, disse que nenhum dono de "Dara" pretende desafiar a ordem do chefe de Estado, mas também apelou a que se encontre "uma boa solução".
"As 'Daras' são centros de construção da paz porque ensinam a religião de forma moderna. Nós não queremos o extremismo na nossa terra, por isso estamos a trabalhar com as crianças. Apelamos ao Estado para que dialogue connosco. Não queremos politizar esta questão", observou Mussá Kebe.
Este líder religioso disse ter dado orientações aos seus associados no sentido de respeitarem a ordem emitida pelas autoridades, mas lamentou que seria "muito feio constatar que um mestre corânico foi detido" na Guiné-Bissau "por estar a ensinar crianças", notou.
"Uma coisa podemos garantir: Não vamos parar de ensinar as nossas crianças porque isso seria o fim da nossa religião na Guiné-Bissau", sublinhou Mussá Kebe.
O dirigente islâmico salientou que "desde sempre" a sua organização "sempre tem apelado a que se tenha em conta a complexidade da questão das crianças" em processo aprendizagem do Corão.
Mussá Kebe afirmou ainda que o Estado deve aplicar as leis que entender serem necessárias para organizar a sociedade guineense, mas exortou sobre a necessidade de nada ser imposto aos religiosos "que não esteja na Constituição".
O presidente da União Nacional de Imames da Guiné-Bissau, Suleimane Baldé, enfatizou, igualmente, "não ser intenção dos religiosos desafiar o Estado", mas apenas apelar ao Presidente da República no sentido de encontrar "uma boa solução para o problema da criança Talibé".
Talibé é a designação dada a uma criança em processo de aprendizagem do Corão, sob a guarda de um mestre.
"Não queremos desafiar, mas queremos pedir ao Presidente que arranje uma solução para esta questão das 'Daras' que não são lugares para cansar as crianças, mas sim locais de as preparar para a vida", defendeu o líder dos imames da Guiné-Bissau.
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