ONU alerta que resposta humanitária para Síria está apenas 6% financiada
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou hoje que apesar de o plano de resposta humanitária de 2023 para a Síria ser o maior do mundo, está apenas financiado em seis por cento, num momento de necessidade sem precedentes.
© REUTERS/Khalil Ashawi
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Num 'briefing' mensal ao Conselho de Segurança sobre a situação política e humanitária na Síria, o diretor interino de Operações e Advocacia do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Tareq Talahma, apelou à extensão da generosidade demonstrada nas últimas semanas face ao terramoto que afetou a região.
"As pressões não mostram sinais de alívio. Os preços dos alimentos quase duplicaram nos últimos 12 meses. O abastecimento adequado de água está a tornar-se cada vez menos certo em muitas áreas. Meios de subsistência permanecem inacessíveis para muitas pessoas na Síria. Essas necessidades cada vez maiores exigirão determinação contínua da comunidade internacional", destacou Talahma.
Num momento em que a Síria continua a lidar com as consequências humanitárias devastadoras do terremoto de 06 de fevereiro e das suas réplicas - que fez pelo menos 5.791 mortos e 10.041 feridos no país -, a ONU defendeu a criação de um ambiente propício para que a assistência humanitária possa chegar às comunidades de "maneira segura, previsível e oportuna".
"A modalidade transfronteiriça expandida mostrou-se essencial. Mais de 900 camiões com ajuda de sete agências da ONU já chegaram ao noroeste da Síria a partir da Turquia através das três passagens de fronteira disponíveis em Bab Al Hawa, Bab Al Salam e Al Ra'ee", destacou Talahma.
Também o enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, participou na reunião do Conselho de Segurança, onde reiterou ser "absolutamente vital" continuar a fornecer recursos para apoiar a resposta de emergência aos terremotos e a resposta humanitária, tanto na Síria quanto nos países vizinhos, que estão num "imenso sofrimento decorrente do conflito".
Pederson frisou ainda que apesar de se ter registado "uma calma sustentada" na semana seguinte aos terremotos - com as partes em conflito a absterem-se das hostilidades -, seguiu-se um aumento crescente de incidentes.
"Trocas regulares de bombardeamentos e disparos de foguetes nas linhas de frente no noroeste e nordeste; ataques cruzados do grupo terrorista HTS ['jihadistas' Hayat Tahrir al-Sham]; reivindicações dos Estados Unidos de ataques com foguetes contra tropas em Deir-ez-Zor; (...) ataques do Estado Islâmico; e outros ataques aéreos atribuídos a Israel, inclusive no Aeroporto Internacional de Aleppo", relatou o enviado da ONU.
"A minha preocupação não é apenas com os danos que essa violência causa aos civis. Vimos no passado que pequenos incidentes podem provocar uma escalada mais ampla. Isso deve ser evitado a todo custo", reforçou.
O enviado da ONU manifestou ainda preocupação com o facto de o Comité Constitucional sírio não se reunir há dez meses.
"Isso envia uma mensagem preocupante: a capacidade dos sírios de buscar uma solução abrangente está refém de questões não relacionadas ao seu país. O Comité deve retomar o seu trabalho em Genebra com um espírito de compromisso, substância e ritmo", instou.
"A situação atual é tão sem precedentes que exige liderança, ideias ousadas e espírito cooperativo. Uma solução política é o único caminho a seguir para a Síria", acrescentou Geir Pedersen.
Ainda na reunião, o embaixador norte-americano Jeffrey DeLaurentis acusou o regime de Bashar Al-Assad de "nunca ter procurado seriamente a paz" e de ter cometido "atrocidades, algumas das quais chegaram ao nível de crimes de guerra e crimes contra a humanidade", "escondendo-se atrás de seus patronos: Rússia e Irão".
"A recusa do regime de Assad em participar nas reuniões do Comité Constitucional nos últimos meses, após nove rodadas de reuniões nas quais o regime compareceu, mas agiu de má-fé, é uma demonstração clara da crença de Assad de que pode atacar, ou matar de fome, o povo sírio até à submissão", disse DeLaurentis.
"Assad ainda é o ditador brutal cujo regime repetidamente usou armas químicas contra o seu povo. (...) A tragédia do terremoto não transformou Assad num estadista digno de ser abraçado. Somente uma reforma genuína, abrangente e irreversível fará isso", defendeu o diplomata dos Estados Unidos.
Já o embaixador sírio, Bassam al-Sabbagh, acusou os Estados Unidos, Reino Unidos e França - membros permanentes do Conselho de Segurança - de políticas destrutivas e de tentar interferir na política interna do país.
Al-Sabbagh acusou os três países ocidentais de tentarem moldar a opinião publica contra a Síria e de tentar evitar responsabilidades pelo sofrimento do povo sírio.
O diplomata sírio afirmou ainda que a ajuda humanitária está a ser politizada pelos Estados Unidos e pela União Europeia, que impõem "sanções ilegais contra a Síria".
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