Para a União Europeia, as acusações feitas pela junta militar no poder no Burkina Faso contra aquele orgão de comunicação social foram "graves"
A comparação feita pelo porta-voz do governo do Burkina Faso da France 24 com "uma agência de comunicação para terroristas" é uma "acusação grave e totalmente injustificada, tendo em conta o profissionalismo do canal em geral", disse Peter Stano, porta-voz do chefe da diplomacia europeia Josep Borrell.
Segundo aquele porta-voz, "após a suspensão da estação de rádio RFI, em dezembro de 2022, as autoridades do Burkina Faso estão a enviar sinais muito negativos aos seus compatriotas, muitos dos quais ouvem e apreciam estes meios de comunicação".
"A luta contra o terrorismo é compatível com a liberdade de imprensa e a liberdade de informar, que são elementos essenciais de uma sociedade pacífica e democrática, e não deve ser usada como pretexto para limitar o trabalho dos meios de comunicação e dos jornalistas independentes", prosseguiu Borrell.
As autoridades francesas também lamentaram hoje que a junta militar do Burkina Faso tenha suspendido as emissões do canal de televisão, após a publicação de uma entrevista com o líder do grupo terrorista Al Qaeda no Magrebe Islâmico (AQIM), Abu Ubaida Yusef al Anabi.
Numa declaração, o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês sublinhou o seu "empenho constante" na liberdade de imprensa, na liberdade de expressão e na proteção dos jornalistas e de todos aqueles que contribuem para uma informação livre e pluralista.
A junta no poder no Burkina Faso cortou as emissões da France 24 no seu território após uma entrevista com o chefe da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQIM), acusando o canal de oferecer "um espaço para legitimar ações terroristas e discursos de ódio para satisfazer os maus objetivos desta organização no Burkina Faso".
Desde 2015, o Burkina Faso entrou numa espiral de violência perpetrada por grupos terroristas ligados ao Estado Islâmico e à Al-Qaeda, que já causaram a morte de um total de 10.000 civis e militares, segundo as ONG, e cerca de dois milhões de deslocados.
As relações com a França deterioraram-se desde que o Capitão Ibrahim Traore chegou ao poder. Em janeiro, as autoridades de Ouagadougou exigiram e conseguiram a saída da força francesa Sabre do país, um contingente de 400 forças especiais para a luta contra o terrorismo na região do Sahel.
Depois de anunciar a suspensão das emissões da France 24, o porta-voz do governo do Burkina Faso, Jean Emmanuel Ouédraogo, manifestou o seu "pesar" ao "ver que o chefe de uma organização terrorista como a AQIM, reconhecida como tal por toda a comunidade internacional, pode beneficiar de importantes órgãos como a France 24 para se exprimir na estação de rádio do canal".
"Esta organização, convém recordar, segue uma linha de terrorismo jihadista e é responsável por crimes atrozes que abalam a consciência humana e deixaram milhares de vítimas em todo o mundo", recordou, antes de denunciar que a AQIM "alimenta a violência e a barbárie terrorista contra as populações pacíficas do Shael".
Neste sentido, sublinhou que o grupo terrorista "tem planos terríveis" para o Burkina Faso e argumentou que, ao conceder-lhe esta entrevista, "a France 24 não está apenas a atuar como uma agência de comunicação para terroristas, mas está a oferecer um espaço para legitimar as suas ações terroristas e o seu discurso de ódio".
Em resposta, o canal francês disse que tinha tomado conhecimento da decisão através do comunicado do governo e salientou que "lamenta aquela decisão e rejeita as acusações infundadas que lançam dúvidas sobre o profissionalismo do canal". O canal indica que "não falou diretamente" ao líder da AQIM e acrescentou que "relatou as suas declarações sob a forma de uma crónica que permitia a distância e contextualização necessárias".
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