Borrell prolonga na China esforços para distanciar Pequim de Moscovo

O chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, vai visitar a China esta semana, prolongando o ritmo de visitas de líderes europeus que consideram poder influenciar Moscovo na guerra na Ucrânia.

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© Philipp von Ditfurth/picture alliance via Getty Images

Lusa
12/04/2023 08:15 ‧ 12/04/2023 por Lusa

Mundo

Diplomacia

A visita de Borrell, entre os dias 13 e 15 de abril, ocorre poucos dias após o presidente francês, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, terem estado no país asiático. Também Pedro Sanchez, o primeiro-ministro da Espanha, visitou a China, há duas semanas. O chanceler alemão, Olaf Scholz, esteve em Pequim em novembro passado. Seguiu-se Charles Michel, presidente do Conselho Europeu.

Os líderes europeus instaram repetidamente Pequim a usar a sua influência junto da Rússia para pôr fim à guerra na Ucrânia. "Se há um único país que pode levar Moscovo a mudar os seus cálculos é a China", admitiu um funcionário do gabinete de Macron, nas vésperas da visita do líder francês.

No entanto, a posição de Pequim sobre o conflito mantém-se intacta. A China afirmou ser neutra, mas mantém uma relação "sem limites" com a Rússia e recusou-se a criticar a invasão. O país criticou antes a imposição de sanções a Moscovo e culpou abertamente o alargamento da NATO pela guerra.

Num documento proposto em fevereiro passado para pôr fim ao conflito, Pequim destacou a importância de "respeitar a soberania de todos os países", numa referência à Ucrânia, mas apelou também ao fim da "mentalidade da Guerra Fria" -- um termo frequentemente usado pela China para criticar a política externa dos Estados Unidos.

"Nenhum dos líderes europeus conseguiu levantar a nuvem de ambiguidade sobre as reais intenções do [presidente chinês] Xi Jinping na Ucrânia", lembrou Sylvie Kauffmann, colunista no jornal Le Monde, após a visita de Macron.

Borrell chega a Pequim confiante de que a parceria entre Pequim e Moscovo tem limites, apesar da retórica oficial em contrário. Ele enfatizou recentemente que a China, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, deve agir para proteger a ordem internacional baseada em regras. Pequim tem "obrigações morais" e não pode ficar do lado do agressor, disse.

"Fomos claros com a China: a sua posição sobre as atrocidades e crimes de guerra vai determinar a qualidade das nossas relações com Pequim", observou o chefe da diplomacia europeia.

A visita de Borrell surge também após Emmanuel Macron ter defendido, na China, que a Europa deve distanciar-se das crescentes tensões entre Pequim e Washington, suscitadas pela questão de Taiwan, e forjar uma "autonomia estratégica" a todos os níveis, desde a energia à defesa.

A Europa deve manter o foco nos seus próprios objetivos, frisou. "É do nosso interesse acelerar [uma crise] na questão de Taiwan? Não", afirmou. "O pior seria pensar que nós, europeus, devemos tornar-nos seguidores nesta questão e adaptar-nos à agenda norte-americana e a uma reação exagerada do lado chinês", notou.

As declarações de Macron foram alvo de críticas, por parte de membros do Congresso dos Estados Unidos e parlamentares dos países do leste e centro da Europa, numa altura em que Washington reafirma o seu compromisso com a defesa da Ucrânia.

O senador republicano Marco Rubio, disse que a entrevista de Macron é "preocupante" e sugeriu que Washington repensasse o apoio à Ucrânia. "Se Macron fala por toda a Europa e a sua posição agora é que não vão escolher lados entre os EUA e a China na questão de Taiwan, talvez então também não devêssemos tomar partido (...) e [deixá-los] lidar sozinhos com a Ucrânia", disse.

Analistas consideram ainda que as declarações de Macron sinalizaram a "desunião" da Europa em relação à China, já que contrastam com a posição expressa por Ursula von der Leyen em Pequim, de que uma alteração do status quo através da força no Estreito de Taiwan seria "inaceitável".

Josep Borrell terá assim que "corrigir algumas ilusões [chinesas] sobre a posição da UE", suscitadas pelas declarações de Macron, apontou Reinhard Bütikofer, o presidente da delegação chinesa no Parlamento Europeu. "Ele deve insistir explicitamente que a UE se opõe a qualquer mudança unilateral no estreito de Taiwan", defendeu.

Leia Também: Ucrânia. Posições de Pequim determinarão "qualidade das relações" com UE

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