Sudão. ONU defende cessar-fogo e pede negociações pacíficas
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos defendeu hoje um cessar-fogo no Sudão, apelando às partes para retomarem as negociações pacíficas para terminar um conflito que já fez 185 mortos e 1.800 feridos.
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Mundo Sudão
"Os combates nascem de jogos de poder e interesses pessoais que só servem para alienar as aspirações democráticas da população; até há poucas semanas parecia que o Sudão estava no caminho correto para um acordo para restaurar a governação civil, por isso deve prevalecer o bom senso e todas as partes devem atuar para reduzir as tensões, porque os interesses do povo sudanês devem estar em primeiro lugar", disse Volker Türk.
Durante uma conferência de imprensa citada pela agência de notícias EFE, esta manhã em Genebra, o alto comissário lamentou o surto de violência dos últimos dias e avisou que isso pode fazer descarrilar o processo de regresso a uma governação civil.
A ONU contabilizou pelo menos 185 mortos e cerca de 18 mil feridos, principalmente na capital, Cartum, mas também noutras cidades deste país africano.
"Milhares e milhares de civis estão presos em suas casas, fugindo dos combates, sem eletricidade, sem poder sair e preocupados por poderem ficar sem alimentos, sem água potável e sem medicamentos", acrescentou o austríaco, recordando quer às Forças Armadas, quer aos paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF), o seu dever de garantir a proteção dos cidadãos e das infraestruturas civis.
Pedindo uma investigação exaustiva sobre a violência no país, especialmente os homicídios de civis e em particular de três trabalhadores do Programa Alimentar Mundial, Volker Türk salientou que "o Sudão já suportou muita dor e muito sofrimento" e perguntou aos militares e paramilitares se não percebem "que a população civil só quer uma vida pacífica".
O surto de violência surgiu no fim de semana entre os dois principais generais sudaneses, cada um deles apoiado por dezenas de milhares de combatentes fortemente armados, levando milhares de pessoas a permanecerem desde então nas suas casas ou em outros abrigos, com os mantimentos a esgotarem e vários hospitais a serem forçados a encerrar os serviços.
Face à tragédia em curso, diplomatas de diferentes países tentaram sem êxito negociar uma trégua, e o Conselho de Segurança da Nações Unidas foi convocado para discutir a crise.
A luta pelo poder colocou o general Abdel Fattah al-Burhan, comandante das forças armadas, contra o general Mohammed Hamdan Dagalo, chefe das Forças de Apoio Rápido, um grupo paramilitar, numa reviravolta face à organização conjunta de um golpe militar em outubro de 2021.
Agora, a violência trouxe o espectro da guerra civil, numa altura em que os sudaneses estavam a tentar incrementar um governo democrático e civil, após décadas de governo militar.
Sob pressão internacional, Burhan e Dagalo tinham recentemente acordado num acordo-quadro com partidos políticos e grupos pró-democracia, mas a assinatura foi repetidamente adiada à medida que as tensões aumentavam entre as duas fações em resultado da integração das RSF nas Forças Armadas e da definição da futura cadeia de comando.
Apenas há quatro anos, o Sudão inspirou esperança após uma revolta popular, ajudando a depor o líder autocrático de longa data Omar al-Bashir, mas a agitação desde então, especialmente o golpe de 2021, frustrou o impulso democrático e arruinou a economia.
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