Num texto publicado na sua página online, na terça-feira, com um tom crítico e sarcástico relativamente à postura de Lula da Silva na China, a HRW relembrou que a constituição do Brasil determina que o Governo brasileiro tem como pilar da sua política externa a defesa dos direitos humanos
"Assim, quando o Presidente Lula visitou a China há alguns dias, é claro que trouxe à baila o terrível historial de Pequim em matéria de direitos humanos, certo?", escreveu, em tom jocoso, a HRW.
Durante a sua visita ao gigante asiático, o Brasil assinou cerca de 20 acordos para reforçar os laços nas áreas do comércio, protocolos fitossanitários, tecnologia, desenvolvimento, transição energética e outras áreas de colaboração no quadro da parceria estratégica bilateral.
"Quanto a acordos sobre o respeito dos direitos humanos: zero", criticou a organização não-governamental, que recordou ainda que Lula da Silva defende abertamente uma política de justiça social e de direitos humanos, no seu país, e que quando tomou posse a 01 de janeiro "prometeu inverter o deslize dos direitos humanos do Brasil, afastando-se das políticas autoritárias do seu antecessor, Jair Bolsonaro".
"Aparentemente, isso não se aplica às relações da Administração Lula com a China. Suponho que o autoritarismo e os abusos estão bem quando estão a acontecer a outras pessoas?", reforçou a HRW.
Pequim é acusado de encerrar massivamente os uigures, uma comunidade de maioria muçulmana do oeste da China, em vastos campos de trabalho, inclusivo na região de Xinjiang.
Vários países ocidentais acusam Pequim de deter nos últimos anos, em campos de reeducação, sob forte vigilância, um milhão de uigures, uma minoria de origem muçulmana, além de membros de outros grupos étnicos da região.
"Pequim está também a esvaziar a língua, cultura e religião dos tibetanos, e desmantelou rapidamente as liberdades de Hong Kong", acusou a HRW.
Tal como acontece com Macau desde 1999, para Hong Kong foi acordado a partir de 1997 um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judicial, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa, ao abrigo do princípio "um país, dois sistemas".
"Em toda a China, as autoridades estão a fazer um controlo ideológico e social, prendendo, assediando e intimidando qualquer pessoa que critique a administração. O Governo chinês há muito que proibiu os sindicatos de trabalhadores independentes", recordou a organização não-governamental.
A administração anterior do Brasil, chefiada por Jair Bolsonaro, segundo a HRW, também não se pronunciou contra "os horrores" dos direitos humanos da China, só que Lula da Silva "parecia prometer algo diferente, algo talvez mais consentâneo com a obrigação constitucional de defender os direitos humanos na política externa"
"Onde estava esse espírito em Pequim na semana passada?", questionou a HRW.
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