Ao longo dos últimos 14 meses são muitas as imagens que têm chegado da Ucrânia a todas as partes do mundo, e, apesar de muitas demonstrarem a força, esperança e resiliência de um povo que insiste em não desistir da luta pela sua soberania, há fotografias que retratam o medo, a destruição e a morte.
Uma dessas imagens foi captada por Evgeniy Maloletka, um fotógrafo ucraniano da Associated Press (AP), que tem vindo a acompanhar o conflito em território nacional - não só agora, como desde que a Rússia anexou ilegalmente a Crimeia, em 2014. Entre outras imagens que marcam os últimos tempos, a organização da World Press Photo elegeu 'The Siege of Mariupol' [O cerco de Mariupol, na tradução livre'] como Fotografia do Ano.
De acordo com a organização do concurso, que vai na 66.ª edição, esta imagem capta "na perfeição o sofrimento humano", assim como retrata "o absurdo e o horror da guerra".
.@AP photographer Evgeniy Maloletka won the World Press Photo of the Year award for his harrowing image of a wounded pregnant woman being carried through the shattered grounds of a maternity hospital in the Ukrainian city of Mariupol. She later died. https://t.co/9CHJvfG8uy
— The Associated Press (@AP) April 20, 2023
Mas que fotografia é, afinal, esta?
Iryna Kalinina era uma das civis que estava na maternidade de Mariupol, na Ucrânia, quando Moscovo decidiu bombardear o local, quase três semanas depois de as tropas invadirem o país. Nessa altura, os militares russos cercavam a cidade portuária, estratégica devido à sua localização - apesar de Moscovo querer tomar a cidade, e tê-lo feito mais tarde, o local tornou-se um símbolo de resistência - para a qual a história de Iryna, grávida e uma vítima da guerra, contribuiu.
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Moscovo, que tentava tomar a cidade por forma a tornar esta 'uma ponte' entre Donetsk e Crimeia, cercou cerca 200 mil pessoas, cortando-lhes o acesso a água, eletricidade e comida. Quando as primeiras notícias sobre um bombardeamento na unidade hospitalar foram conhecidas, a Rússia disse que eram notícias falsas. Mais tarde, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, disse que o bombardeamento tinha sido deliberado, e que as instalações tinham sido ocupadas por militares russos e as pessoas retiradas.
Posteriormente, uma investigação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa concluiu que este ataque tinha sido um ataque propositado. No total, ficaram 17 pessoas feridas, e foram registadas três mortes, uma das quais, a de Iryna.
A mulher, de 32 anos, foi fotografada por Maloletka quando estava a ser retirada da unidade hospitalar. Os socorristas levaram-na, na altura, para longe do hospital bombardeado.
Já num outro hospital, o cirurgião que a recebeu descreveu à AP que a pélvis da mulher estava esmagada, entre outros ferimentos. Os médicos fizeram o parto do bebé por cesariana, mas este "não mostrou sinais de vida". O mesmo médico referiu, ainda, que fizeram "mais 30 minutos de reanimação da mãe", mas sem sucesso. Quando percebeu que estava a perder o bebé, pediu aos médicos que a deixassem morrer.
É muito doloroso de compreender. São fotografias do horror. Não é por isto que eu queria receber um prémio, mas é assim, isto vai acompanhar-me para sempre. Ao mesmo tempo, é importante mostrar ao mundo o que se passa na Ucrânia
Em declarações à agência Efe, o jornalista premiado admitiu ser difícil "receber um prémio por fotografias de pessoas que já morreram".
"É muito doloroso de compreender. São fotografias do horror. Não é por isto que eu queria receber um prémio, mas é assim, isto vai acompanhar-me para sempre. Ao mesmo tempo, é importante mostrar ao mundo o que se passa na Ucrânia", afirmou.
De acordo com a diretora executiva da Fundação World Press Foto, Joumana El Zein Khoury, o júri foi rápido na decisão de atribuir o prémio a Evgeniy Maloletka.
"Era claro desde o início que precisava de vencer. Todos os membros do júri o disseram. Porquê? Porque realmente demonstra como a guerra, e em particular a guerra na Ucrânia, afeta não só uma geração como múltiplas gerações", afirmou à Associated Press.
Além do prémio de Fotografia do Ano, a World Press Foto atribuiu ainda três outros prémios globais de fotojornalismo e vários prémios regionais.
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