A deslocação de Macron a Ganges surge no contexto de um novo esforço concertado entre ele e o seu Governo para superar o movimento de contestação social de quase três meses no país, agora que a polémica revisão da lei das pensões já foi promulgada.
Os manifestantes entoaram o que se tornou o hino dos protestos contra o aumento da idade de reforma no país: "Estamos aqui, estamos aqui, mesmo que Macron não queira, nós estamos aqui!".
O Presidente francês encontrou-se com professores e alunos de uma escola do 3.º ciclo do ensino básico (7.º, 8.º e 9.º anos), onde falou da sua política educativa.
À sua chegada, as instalações da escola sofreram um corte de eletricidade, que a filial local da central sindical de esquerda Confederação Geral do Trabalho (CGT) indicou ser uma ação de protesto.
Dezenas de agentes policiais foram enviados para a pequena cidade francesa, para impedir que os manifestantes se aproximassem demasiado da escola, e chegaram a lançar gás lacrimogéneo para dispersar a multidão que tentava ultrapassar as barreiras.
Na quarta-feira, Macron esteve no leste de França, onde falou de perto com a população pela primeira vez desde que promulgou a lei, na semana passada. Muitas pessoas aproveitaram a oportunidade para dar voz à sua revolta contra a nova lei.
O aumento da idade de reforma e do número de anos da carreira contributiva para uma aposentação sem penalizações financeiras desencadeou um movimento nacional de contestação, com centenas de milhares de pessoas nas ruas, a partir de 19 de janeiro.
Os opositores ao projeto de lei ficaram ainda mais revoltados quando, em março, o Governo de Macron aprovou o diploma sem o submeter a votação no parlamento (onde não dispõe de maioria), recorrendo a um mecanismo previsto na Constituição.
Isso levou a CGT a convocar ações de protesto em todo o país, que incluíram bloqueios de estradas, quebra de vitrinas e pilhagem de estabelecimentos comerciais, incêndio de mobiliário urbano e do lixo acumulado durante quase três semanas de greve dos serviços de recolha, confrontos com a polícia, ferimentos e detenções.
Após a promulgação da nova lei, e apesar dos apelos dos sindicatos, os protestos passaram de centenas de milhares para apenas centenas de pessoas, na maior parte dos casos.
Hoje, em Paris, concentraram-se centenas de pessoas para uma manifestação pacífica na estação ferroviária Gare de Lyon, dirigindo-se, em seguida, para o centro financeiro de La Defense, na parte oeste da capital, onde irromperam brevemente pelo edifício da bolsa de valores europeia Euronext brandindo foguetes sinalizadores.
"Queremos mostrar que a mobilização continua, não vamos deixar passar esta lei de maneira nenhuma", disse o dirigente do sindicato da companhia ferroviária Sud Rail, Fabien Villedieu, citado pela agência de notícias norte-americana Associated Press (AP).
A ação na sede da Euronext destina-se a mostrar "onde o dinheiro está", explicou Villedieu, acrescentando: "França nunca foi tão rica, nunca as multinacionais em França foram tão ricas. O problema é a distribuição da riqueza".
Macron justificou o aumento da idade de reforma com a necessidade de manter a viabilidade do sistema de pensões nacional, num país cuja população está cada vez mais envelhecida.
Os sindicatos e outros opositores argumentaram que, nesse caso, deveriam ser os contribuintes ou as empresas mais abastados a pagar mais, encarando a nova lei como um enfraquecimento da rede de segurança social do país.
Também hoje de manhã, alguns manifestantes na cidade setentrional de Lille caminharam ao longo da linha ferroviária, bloqueando a circulação de comboios durante cerca de uma hora. Depois, abandonaram o local de forma pacífica.
Hoje também, vários sindicatos se juntaram a uma greve da companhia ferroviária nacional SNCF, perturbando ligeiramente o tráfego ferroviário.
Algumas linhas regionais e comboios suburbanos de Paris foram afetados, ao passo que os comboios de alta velocidade estavam a funcionar quase normalmente, indicou a SNCF.
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