Os confrontos, iniciados no passado dia 15, opõem o exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), e segundo o ministro da Saúde sudanês, Ibrahim Haizam, citado pelos canais de televisão Al Arabya e Al Hadath, as áreas mais afetadas pelos confrontos são a capital, Cartum, e as províncias Kordofan do Norte e Darfur.
Segundo o governante, há "um grande número" de cadáveres nas ruas que não puderam ser retirados devido à intensidade dos combates, e avisou que isso representa uma ameaça de epidemia.
Entre as vítimas mortais dos combates está um trabalhador da OIM, que morreu em consequência dos disparos efetuados contra a viatura em que circulava, acompanhado da família, anunciou em Genebra o diretor-geral daquela agência da ONU, o português António Vitorino.
"Estou profundamente triste com a morte do nosso colega, e enviamos as nossas condolências à sua mulher e filho recém-nascido", disse António Vitorino, numa declaração.
O incidente ocorreu nos arredores da cidade de El Obeid, cerca de 400 quilómetros a sudoeste de Cartum.
António Vitorino recordou que três outros trabalhadores da ONU, neste caso do Programa Alimentar Mundial (PAM), foram mortos num incidente semelhante no sábado passado, 15 de abril, dia em que começou a atual escalada de violência.
"A morte sem sentido de civis, incluindo trabalhadores humanitários, tem de parar e a paz tem de ser restaurada", defendeu o diretor-geral.
A OIM afirmou que o atual conflito forçou a organização, tal como outras agências da ONU, a suspender as suas atividades no Sudão até que as partes beligerantes garantam a segurança dos trabalhadores humanitários e lhes proporcionem acesso sem restrições às áreas onde podem prestar assistência aos mais vulneráveis.
Os combates prosseguem hoje, primeiro dia do AEid al-Fitr que marca o fim do mês do Ramadão, apesar dos repetidos apelos a um cessar-fogo rivais.
Ao meio-dia (hora local, 11:00 em Lisboa), os ataques aéreos abalaram novamente o centro de Cartum, não muito longe do quartel-general do exército, disseram testemunhas.
Em Nairobi, o Presidente queniano, William Ruto, ofereceu hoje o seu país para acolher um "processo de mediação" entre o exército sudanês e as RSF.
"O Quénia está firmemente convencido de que uma solução negociada pacificamente para o conflito no Sudão está ao nosso alcance e, como sempre, estamos prontos a dar a nossa contribuição", disse Ruto numa declaração.
"Consequentemente, para apoiar um maior progresso na resolução pacífica do conflito no Sudão, o Quénia oferece-se para acolher um processo de mediação entre as partes", salientou o chefe de Estado queniano na sua declaração.
Ruto destacou que fez "a oferta no espírito de fraternidade, paz e solidariedade como um local neutro aceitável e também como um interveniente empenhado consciente dos desafios" que a região enfrenta.
As RSF concordaram com uma trégua de três dias, coincidindo com o feriado de Aid al-Fitr, defendida na quinta-feira pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, mas o exército sudanês ainda não se pronunciou a esse respeito.
Os confrontos começaram no sábado entre as forças armadas, comandadas pelo líder de facto do país desde o golpe de Estado de outubro de 2021, o general Abdel Fattah al-Burhan, e as RSF, chefiadas pelo general Mohamed Hamdane Daglo, conhecido como "Hemedti", que orquestrou em conjunto o golpe de 2021, mas que se tornou inimigo.
Leia Também: Pelo menos 413 mortos e mais de 3.500 feridos no Sudão