"Não esqueceremos, não perdoaremos", disse Lavrov aos jornalistas, acusando Washington de tomar uma decisão "cobarde".
A Rússia ocupa este mês a presidência rotativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, numa altura em que está a ser repudiada pela comunidade internacional pela invasão da Ucrânia.
"Um país que se diz o mais inteligente, o mais forte, o mais livre, o mais justo, 'acobardou-se' e fez mesmo algo estúpido", criticou Lavrov, ironizando com o facto de os Estados Unidos da América (EUA) terem recusado conceder vistos aos jornalistas russos, demonstrando, na sua opinião, "o que valem as suas declarações sobre a liberdade de expressão".
Um dos seus vice-ministro Serguei Riabkov tinha dito já hoje que apesar "dos vários contactos nos últimos dias" por iniciativa de Moscovo, Washington "não concedeu vistos" aos "jornalistas registados para acompanhar Lavrov na sua deslocação" a Nova Iorque, onde fica a sede das Nações Unidas.
Riabkov criticou "um método escandaloso e absolutamente inaceitável" da parte dos americanos, apontando a atitude trocista dos EUA, "que fingem trabalhar" para "encontrar uma solução".
"Encontraremos formas de responder a isto, para que os americanos se lembrem por muito tempo que isto não se faz. Eles irão lembrar-se", acrescentou.
Fonte diplomática, citada pela agência de notícias russa Ria Novosti, afirmou em retaliação que "não há dúvida que os jornalistas americanos (na Rússia) conhecerão todo o 'desconforto e inconvenientes' e uma atitude semelhante" da parte das autoridades russas.
A visita à ONU de Lavrov, na segunda e terça-feira, focar-se-á em temas como o acordo dos cereais ou o "verdadeiro multilateralismo", enquanto prossegue a invasão russa da Ucrânia.
Lavrov viajará para Nova Iorque no âmbito da presidência russa do Conselho de Segurança da ONU e presidirá a dois debates, sobre o multilateralismo e o Médio Oriente.
O chefe da diplomacia russa terá ainda a oportunidade para discutir diretamente com o secretário-geral da ONU, António Guterres, a continuidade do acordo dos cereais do Mar Negro e o descontentamento de Moscovo com a falta de cumprimento de certos aspetos da iniciativa, segundo adiantou o embaixador russo junto da ONU, Vasily Nebenzya, cujo país invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.
De acordo com Nebenzya, uma conversa com Guterres sobre a continuidade do acordo dos cereais também "é devida", num momento em que a Rússia admite não prolongar o acordo, caso não se verifiquem progressos no cumprimento de compromissos no quadro do memorando entre Moscovo e a ONU, nomeadamente sobre a exportação de cereais e fertilizantes russos.
Ainda sobre a deslocação de Lavrov aos Estados Unidos, Nebenzya não descartou um encontro entre o ministro russo e as autoridades norte-americanas, se estas o solicitarem, mas garantiu que nada foi agendado até ao momento.
A Rússia, um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e com poder de veto, assumiu este mês a presidência rotativa do órgão, que tem capacidade de fazer aprovar resoluções com caráter vinculativo.
A presidência russa acontece num momento em que o Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, tem um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra, nomeadamente alegados sequestros de crianças na Ucrânia, crimes que a diplomacia russa na ONU imputou a países como Portugal.
Em março, o representante permanente da Ucrânia junto das Nações Unidas, Sergiy Kyslytsya, apelou publicamente à organização para que não permitisse a presidência russa, mas sempre sem sucesso. Uma vez que não conseguiu travar a presidência russa, Kyslytsya espera agora que Guterres use o seu encontro com Lavrov para "reafirmar" a sua posição pessoalmente.
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