Face à revelação de novas informações contidas nos documentos confidenciais do Pentágono, que davam conta de que a Ucrânia terá sido dissuadida pelos Estados Unidos quanto aos planos de um ataque a Moscovo no aniversário do brotar da guerra, o conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, lançou farpas aos meios de comunicação daquele país que, na sua ótica, ‘pintam’ a Ucrânia como “irracional, infantil e impulsiva”, moldando a opinião pública. Questionou, além disso, qual seria o propósito de um ataque em Moscovo, apelando a mais armas para financiar a contraofensiva em solo ucraniano.
“’No aniversário da guerra, a Ucrânia planeou atacar Moscovo com tudo o que tinha, mas os seus parceiros fizeram com que mudasse de decisão’, relatou a respeitável media norte-americana de forma conspiratória. Claro, sem detalhes e lógica. E então tenho uma pergunta simples. Por que haveria a necessidade de fazermos isso? O que é que essa ação única resolveria? Mudaria o curso da guerra? Faria os russos fugirem? Eliminaria a necessidade de armas?”, começou por questionar Podolyak, através da rede social Twitter.
Em causa está uma notícia avançada pelo The Washington Post que, depois de ter tido acesso a mais documentos confidenciais do Pentágono, apontou que os Estados Unidos dissuadiram a Ucrânia de levar a cabo um ataque contra Moscovo, no dia 24 de fevereiro deste ano.
We all see a strange media/sensation once again... "On the anniversary of the war, Ukraine planned to strike at Moscow with everything it had, but its partners made it change the decision", the reputable American media conspiratorially reported. Of course, without details and…
— Михайло Подоляк (@Podolyak_M) April 24, 2023
Contudo, segundo o conselheiro presidencial, estas publicações que recorrerem a “fontes anónimas” cumprem apenas “uma função catastrófica”.
“Moldam a opinião pública nas capitais ocidentais, como se a Ucrânia fosse um país irracional, infantil e impulsivo, perigoso para os adultos confiarem armas sérias. Se isso é feito consciente ou inconscientemente é outra questão”, atirou.
O responsável foi mais longe, indicando que “a Ucrânia vê as coisas de maneira diferente”.
“Abordamos a guerra com uma lógica matemática rígida: precisamos de mísseis de longo alcance para destruir a logística russa nos territórios ocupados e vários tipos de aeronaves para proteger o céu e destruir as fortificações russas. Esses são os principais componentes de operações de contra-ofensiva bem-sucedidas e minimização de perdas”, esclareceu.
Nessa linha, Podolyak apelou, uma vez mais, ao fornecimento de armas por parte dos aliados ocidentais, recordando que “as pessoas estão a morrer”.
“Talvez esteja na hora de parar de brincar com desculpas e ‘realpolitik’ [política internacional ou de relações diplomáticas baseada essencialmente em questões práticas e pragmáticas, em detrimento de questões ideológicas ou ética] de beco enquanto a guerra ainda está em andamento e as pessoas estão a morrer”, rematou.
De notar que, na semana passada, Podolyak voltou a apelar à ação dos líderes ocidentais no que diz respeito ao envio de armamento para a Ucrânia, questionando se a guerra “sangrenta” não é o suficiente para suscitar “decisões ousadas”.
Evocou, além disso, cidades como Mariupol e Bucha, que foram destruídas à conta da ação das forças russas no decorrer do conflito.
“Quantas Mariupol devem ser enterradas nos escombros para a Ucrânia obter mísseis e aeronaves de longo alcance? Quantas Bucha deveria a Rússia exterminar para empresas internacionais pararem de trabalhar com a Federação Russa?”, atirou.
Lançada a 24 de fevereiro, a ofensiva militar russa na Ucrânia já provocou a fuga de mais de 14 milhões de pessoas, segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A entidade confirmou ainda que já morreram mais de 8.534 civis desde o início da guerra e 14.370 ficaram feridos, sublinhando, contudo, que estes números estão muito aquém dos reais.
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