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Presidente diz que reconciliação timorense ainda não está concluída

O presidente da República timorense disse hoje que a reconciliação entre os timorenses não está concluída, depois da guerra contra a ocupação indonésia, por prevalecerem acusações lançadas pela ONU contra alguns responsáveis nacionais e indonésios.

Presidente diz que reconciliação timorense ainda não está concluída
Notícias ao Minuto

09:15 - 25/04/23 por Lusa

Mundo Timor-Leste

"O nosso país e povo conhecemos os horrores de guerras, o levantamento de 1958, a guerra civil de agosto de 1975, conflitos sangrentos entre os timorenses, a guerra e as catástrofes humanas resultantes do conflito que durou 24 anos", afirmou José Ramos-Horta em Díli.

"Com coragem soubemos perdoar, reconciliar, sarar as feridas do corpo e da alma, e reunir a grande família timorense. Mas o processo de reconciliação ainda não é total, ainda não é genuíno, porque prevalecem os indícios lançados pelas instituições criadas pela UNTAET em 2000, afetando 400 pessoas entre Timorenses (agora cidadãos indonésios) e algumas figuras militares indonésias", considerou.

O chefe de Estado, que já se tinha referido a este tema no passado, reiterou o seu compromisso de "tudo fazer para completar o nobre processo de reconciliação intratimorense".

José Ramos-Horta falava numa cerimónia no Parlamento Nacional alusiva ao 1.º aniversário da adesão de Timor-Leste o documento sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Convivência Comum.

"Timor-Leste tem a obrigação, fundada na nossa própria Constituição, de aderir em pleno aos valores consagrados na Declaração Sobre Fraternidade Humana, integrando-a no curriculum escolar a partir do ensino elementar", afirmou.

"Acredito que a introdução do estudo da Declaração Sobre Fraternidade Humana adaptado para cada fase escolar irá contribuir para que esta terra sagrada de tanto sofrimento e esperança venha a ser uma terra de paz e fraternidade", disse.

O chefe de Estado referiu-se ainda ao momento atual, "uma crise global sem precedentes desde a Segunda Grande Guerra", em que se evidencia um crescente processo de fragmentação do multilateralismo.

"Não me refiro apenas à destruidora guerra na Ucrânia, uma guerra desencadeada por um membro Permanente do Conselho de Segurança, facto que descredibiliza a única instituição de paz e segurança universalmente reconhecida e mandatada para prevenir conflitos, intervir e restaurar paz e segurança", disse.

"Sabemos que o processo de fragmentação do multilateralismo não começou com a guerra da Ucrânia. Forças russas antes tinham invadido e ocuparam partes do território de Geórgia e a península de Crimeia. Membros do Conselho de Segurança estão direta ou indiretamente envolvidos nas guerras sem fim na Síria, Líbia, Iémen, etc", considerou.

Paralelamente, recordou, o planeta vive ainda as consequências "nas vidas e nas economias" da pandemia da covid-19, "com o regresso à pobreza de centenas de milhões de pessoas" e o trabalho infantil "a aumentar drasticamente a nível global".

"Instituições bancárias internacionais, públicas e comerciais, têm revelado indiferença perante estas tragédias humanas, não acolhendo os apelos lançados pelo secretário-geral da ONU e por centenas de personalidades mundiais para a adoção de medidas financeiras para incentivar e acelerar a recuperação económica e a melhoria da situação social e humanitária nas regiões e países mais afetados".

Neste quadro, defendeu duas medidas "óbvias" para aliviar a crise económica e humanitária, nomeadamente "o perdão da totalidade das dividas dos Estados Frágeis, dos Países Menos Desenvolvidos (LDCs) e dos Países Altamente Endividados" e ainda um aumento "significativo" para 0,7% do PIB do apoio externo dos países industrializados.

"A pandemia foi uma lotaria com sorte grande para as grandes indústrias farmacêuticas mundiais, estas viram seus lucros subirem em milhares de milhões de dólares. As indústrias armamentistas lucram escandalosamente com guerras, são indiferentes à destruição e morte das centenas de milhares de seres inocentes", afirmou.

O chefe de Estado timorense disse que se mobilizaram milhares de milhões para a Ucrânia, ou para os pacotes para resgatar a banca ocidental, mas poucos países ricos "responderam aos apelos da ONU para alocar 0,7% do seu PIB para programas de ajuda externa".

Em vez disso, desde a crise do subprime de 2009, notou, "a contribuição dos países de OCDE tem sido drasticamente reduzida, nunca restaurada aos níveis de antes de 2009".

"É muito obvio que a essência da mensagem da Fraternidade Humana está ausente do vocabulário e práticas dos grandes detentores de poder mundial.

Referindo-se ao atual momento de campanha para as legislativas timorense, Ramos-Horta referiu-se a "incidentes de alguma gravidade visualmente comprovados", pelo que renovou o apelo "veemente para a observância rigorosa dos compromissos que todos os partidos democráticos assumem, de rejeição de discursos inflamatórios, populistas e demagógicos".

"O povo merece, espera e exige de todos nós um comportamento exemplar nos nossos discursos e atos. Assim poderemos consolidar a democracia e paz duradouras e confirmar Timor-Leste como Terra de Fraternidade", disse.

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