Retirada de cidadãos continua no Sudão. Em que ponto está o conflito?

Combates entre exército e força paramilitar estão a levar o país a uma situação catastrófica. Enquanto os estrangeiros deixam o país, aqueles que ficam começam a ter de lidar não só com os confrontos, mas também com a situação crítica dos hospitais e o aumento de preços dos produtos básicos.

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Notícias ao Minuto com Lusa
26/04/2023 09:21 ‧ 26/04/2023 por Notícias ao Minuto com Lusa

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Sudão

Desde o passado dia 15 de abril que o Sudão é palco de violentos confrontos entre as forças do chefe do exército e governante de facto do país desde o golpe de 2021, o general Abdel Fattah al-Burhane, e o 'número dois' e chefe das forças paramilitares de apoio rápido (RSF, na sigla em inglês), Mohamed Hamdane Daglo. Como está a situação, neste momento?

Apesar do cessar-fogo de 72 horas negociado pelos Estados Unidos, os relatos de violência continuam a chegar. Ambas as partes têm desrespeitado as leis e normais de guerra e têm sido atacadas, de forma indiscriminada, áreas densamente povoadas, hospitais, lojas e carros civis que transportam doentes, feridos e idosos.

"Áreas residenciais estão sob ataques persistentes. Casas, lojas, escolas, instalações de água e eletricidade, mesquitas e hospitais foram danificados ou totalmente destruídos. Há relatos de invasões de casas e saques desenfreados. Estes incluem casas e carros de cidadãos sudaneses, funcionários da ONU, trabalhadores humanitários e da comunidade diplomática. Também recebemos relatos perturbadores de tentativas de agressões sexuais", disse o enviado especial da missão das Nações Unidas (ONU) no país, Volker Perthes, num 'briefing' do Conselho de Segurança, na terça-feira.

Maior parte dos cidadãos europeus já saiu do país

Desde o início do conflito, os governos estrangeiros têm estado a retirar centenas de cidadãos, incluindo o pessoal diplomático. Esta retirada pode, no entanto, complicar-se com o fim do cessar-fogo.

Na segunda-feira, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, anunciou que até ao final do dia foram retirados mais 1.200 cidadãos dos europeus dos cerca de 1.500 que viviam no país. No mesmo dia, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, afirmou que dos 22 portugueses que se encontravam no Sudão, 21 manifestaram a intenção de sair e apenas um optou por ficar.

Gomes Cravinho esclareceu que há várias missões de retirada de pessoas do Sudão, nas quais estão a sair cidadãos portugueses.

Sublinhe-se que, já esta quarta-feira, um barco com 1.687 civis, de mais de 50 países, em fuga chegou à Arábia Saudita, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita. Treze dos civis eram sauditas, enquanto os restantes são oriundos de países do Médio Oriente, África, Europa, Ásia, América do Norte e América Central.

Criminalidade, inflação e hospitais em dificuldades

Ao mesmo tempo, no país há relatos de prisioneiros a ser libertados de centros de detenção em Cartum, fazendo crescer os temores de aumento de criminalidade.

Como consequência do conflito, os preços dos produtos básicos também têm aumentado por todo o país, atingindo até as localidades poupadas pelos combates.

Além disso, os hospitais de Cartum estão a ficar sem comida, água, primeiros socorros e camas. A Cruz Vermelha britânica alertou para uma situação humanitária "desesperada" mesmo antes do conflito e que "se tornará catastrófica".

Já na terça-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, observou que o Sudão faz fronteira com sete países, todos eles envolvidos em conflitos ou em graves distúrbios civis na última década. Temendo que o conflito se estenda pela região, Guterres apontou que a luta pelo poder no Sudão não está apenas a colocar em risco o futuro do país, mas a "acender um pavio que pode explodir além-fronteiras, causando imenso sofrimento durante anos e atrasando o desenvolvimento em décadas".

Desde o início dos combates, pelo menos 459 pessoas morreram e mais de quatro mil ficaram feridas, de acordo com a ONU.

Os confrontos começaram devido a divergências sobre a reforma do exército e a integração das RSF no exército, parte do processo político para a democracia no Sudão após o golpe de Estado de 2021.

De acordo com a secretária-geral adjunta da ONU para Assuntos Humanitários, Joyce Msuya, mesmo antes do conflito as necessidades humanitárias no Sudão já estavam num nível recorde, com 15,8 milhões de pessoas - um terço da população - a precisarem de ajuda humanitária.

Leia Também: Barco com 1.687 civis em fuga do Sudão chega à Arábia Saudita

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