Como parte da iniciativa, batizada como BRAVE1, o Governo espera reunir empresas estatais, militares e do setor privado que trabalham em equipamento de defesa num 'cluster' tecnológico que possa dar à Ucrânia uma vantagem no campo de batalha.
"Tendo em consideração o inimigo que está mesmo ao nosso lado e a sua escala, precisamos decididamente de desenvolver a tecnologia militar para podermos defender-nos", declarou o ministro da Transformação Digital ucraniano, Mykhailo Fedorov.
Antes do anúncio oficial de hoje, Fedorov disse à agência de notícias norte-americana Associated Press (AP) que o Governo destinou mais de 100 milhões de hryvnias (cerca de 2,45 milhões de euros) para financiar projetos que tenham potencial para ajudar a Ucrânia a vencer o conflito que já dura há mais de 14 meses.
"Há agora no campo de batalha muitas pessoas da nova geração que sabem trabalhar com tecnologias e precisam delas", sublinhou.
O nome do 'cluster' tecnológico de defesa refere-se à bravura demonstrada pela Ucrânia desde a sua invasão pela Rússia, em fevereiro do ano passado, explicou o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, durante a apresentação do projeto.
Reznikov vincou que a Ucrânia está a esforçar-se por se tornar independente em matéria de poder militar e que a BRAVE1 pode ser um passo em frente nesse sentido.
Na semana passada, Reznikov reuniu-se na Alemanha com líderes da área da Defesa de todo o mundo para coordenar mais ajuda militar à Ucrânia.
"Não devemos estar dependentes da boa vontade dos nossos parceiros, temos de investir recursos na nossa independência para podermos defender-nos sozinhos", insistiu.
A apresentação do projeto do 'cluster' de tecnologia de defesa decorreu num parque de estacionamento subterrâneo incluiu a apresentação de algumas tecnologias ucranianas já em utilização no campo de batalha, tais como veículos terrestres não-tripulados, sistemas robóticos para identificar minas terrestres e sistemas aéreos não-tripulados.
Tanto Kyiv como Moscovo utilizam com frequência aeronaves não-tripuladas para reconhecimento e em ataques.
A Rússia usa sobretudo os 'drones' explosivos iranianos de longo alcance Shahed-136 para bombardear centrais elétricas ucranianas e causar pânico aos civis.
O Governo da Ucrânia lançou, no ano passado, uma campanha pública de angariação de fundos pedindo aos doadores estrangeiros para o ajudarem a construir "um exército de 'drones'".
Oleksandr Kviatkovskyi, elemento da administração da organização de inovação militar robótica e digital sem fins lucrativos Aerorozvidka, vê a BRAVE1 como uma plataforma que os militares podem usar para comunicar as suas necessidades de material de combate eletrónico e fornecer apoio estratégico à indústria de tecnologia militar.
No entanto, Kviatkovskyi não tem a certeza de que essa plataforma possa dar um impulso significativo ao desenvolvimento de tecnologias de batalha.
"Mesmo que dê, será mínimo -- poucas coisas podem ser mais eficazes que o impacto criado pelos tanques perto de Kyiv", observou, referindo-se a como as forças ucranianas impediram as tropas russas de irromperem pela capital nas primeiras semanas da guerra.
Fevzi Ametov, soldado ucraniano da Crimeia e cofundador da Drone.ua, uma companhia especializada em 'drones', indicou que as empresas e seus engenheiros já estão a ter em conta opiniões de militares no fabrico dos seus produtos.
"Qualquer ataque sem 'drones', agora, é como entrar às cegas num campo minado, sem saber o que nos espera ao virar da esquina", comentou, acrescentando: "As tecnologias ajudam a salvar vidas".
Por agora, a Ucrânia e a Rússia estão quase ao mesmo nível na sua capacidade de utilizar 'drones', mas, para enfrentar um inimigo com mais tropas e equipamento, a Ucrânia tem de esforçar-se por alcançar a superioridade eletrónica, segundo o ministro da Transformação Digital ucraniano.
"Sem ela, independentemente de quanto entusiasmo tenhamos para defender o nosso país, simplesmente não conseguimos fazê-lo", prosseguiu Mykhailo Fedorov.
"É por isso que é importante construir instituições, para que possamos transformar a energia de todos os voluntários, empresas e cidadãos ativos em grandes projetos concretos que continuarão a funcionar durante décadas", sublinhou.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 427.º dia, 8.574 civis mortos e 14.441 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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