"Tornando-se Biden o Presidente mais velho de sempre, há questões legítimas que devem ser levantadas sobre a idade", afirmou o cientista político Jeffrey Cummins, professor na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno. Mas a fixação parece ser exagerada, considerou, referindo que é mais importante a capacidade de exercer o cargo que a idade específica.
"A não ser que se coloquem limites de idade, em última análise numa democracia são os eleitores que decidem se um candidato é demasiado velho ou não", salientou.
Joe Biden tem 80 anos e, se for reeleito, será o presidente mais velho de sempre, a iniciar um mandato aos 82. O analista Thomas Holyoke considerou que isso irá colocar sob pressão adicional a campanha do presidente.
"A partir deste momento até à eleição todos os dias Biden tem de mostrar competência e capacidade mental. Vai estar sob um microscópio", afirmou o cientista político, também professor em Fresno.
"Penso que o desafio para Joe Biden é que ele vai ter que mostrar que tem energia e capacidade suficientes para fazer este trabalho", frisou o politólogo. "Especialmente perante Republicanos que estão a tentar semear dúvidas sobre isso".
"Tem de ser visto, tem de dar discursos. E essa vai também ser a realidade para Donald Trump", adiantou.
Holyoke frisou que este não é um problema isolado e que, de certa maneira, se tornou inevitável com o aumento da esperança média de vida e a melhoria das condições de saúde.
"Não penso que isto seja preconceito de idade. É uma preocupação relativa ao declínio das capacidades para desempenhar estes cargos", afirmou o analista.
"Estamos a ver isso com a senadora Dianne Feinstein, por quem tenho tremendo respeito mas que de facto parece que já não está capaz de fazer este trabalho tão bem", indicou. A senadora pela Califórnia, de 89 anos, está ausente desde fevereiro por motivos de saúde e por isso os Democratas não têm conseguido confirmar juízes.
Feinstein não é a única octogenária no Senado. O independente Bernie Sanders (81) e os republicanos Chuck Grassley (89) e Mitch McConnell (81) são todos mais velhos que Joe Biden. Cerca de 25% dos senadores têm mais de 70 anos.
E o provável adversário de Joe Biden, o ex-presidente Donald Trump, é apenas três anos e meio mais novo, com 78 anos à data das presidenciais de 2024.
"Uma das coisas interessantes é que se Donald Trump for confirmado como candidato será mais difícil para os Republicanos criticarem a idade de Biden, visto que Trump é apenas uns anos mais novo", salientou Thomas Holyoke.
Jeffrey Cummins também chamou a atenção para esse facto. "Vamos certamente continuar a discutir as idades, mas o contraste não será tão grande como seria se o Republicano fosse mais novo", referiu. Isso foi o que aconteceu em 2008, quando o candidato republicano John McCain, de 71 anos, se bateu contra o democrata Barack Obama, então com 47 anos.
Agora, o embate é diferente. "Será difícil para os Republicanos levantarem esse problema quando o seu próprio candidato tem uma idade aproximada".
No entanto, uma sondagem da Yahoo News/YouGov publicada no final de março revelou que há diferenças na forma como os eleitores olham para a idade de Biden e de Trump.
A pesquisa indica que 65% dos eleitores consideraram Biden "demasiado velho" para mais um mandato, mas apenas 45% disseram o mesmo em relação a Trump, que se fosse eleito teria 78 anos no início do novo mandato.
"Parece que Biden está a ser mais questionado sobre isto. Com o comportamento de Trump, dizendo coisas incoerentes ou que não fazem sentido, é irónico que não tenha havido mais questões sobre isso", sublinhou Jeffrey Cummins.
"Os apoiantes de Trump estão muito mais dispostos a deixar passar disparates e incoerência e vão apoiá-lo apesar de tudo, e não me parece que isso seja assim com os Democratas", sugeriu. "Os eleitores dos dois partidos avaliam os candidatos segundo critérios diferentes".
Isso coloca a pressão no atual presidente, que é sensível às dúvidas sobre a sua idade. "Pensam que eu não sei o quanto estou velho?" terá dito a um aliado em 2022, segundo uma peça no Politico.
Para Thomas Holyoke, a campanha de Biden tem de o tornar mais visível de forma a contrariar os receios.
"Biden tem de ser visto. Isto vai estar a pairar nas cabeças das pessoas, incluindo dos Democratas. Tem de sair e mostrar a todos, incluindo aos seus apoiantes, que não há motivo de preocupação".
O cientista político referiu que o argumento tem validade, independentemente de quem ocupa a Casa Branca. "É um trabalho difícil, que não pode ser feito por alguém que não esteja completamente lúcido", disse.
"Se Biden tropeçar, as pessoas vão notar. Se andar curvado isso vai ser um problema", referiu. "Mas também pode virar-se e lembrar que Trump é velho e gordo. Pode tornar-se uma troca muito feia", antecipou.
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