Nações Unidas preocupadas com evasão de detidos no Sudão
As Nações Unidas expressaram hoje a sua preocupação com a fuga de prisioneiros no Sudão, incluindo um suspeito de crimes contra a humanidade, e denunciou o "clima de impunidade generalizada" no país, palco desde 15 de abril de confrontos.
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Mundo Sudão
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) alertou também para o facto de o conflito estar a reacender os confrontos étnicos na região ocidental de Darfur.
"Estamos muito, muito alarmados com as fugas das prisões", disse a porta-voz do ACNUDH, Ravina Shamdasani, numa conferência de imprensa em Genebra.
"Estamos muito preocupados com a perspetiva de mais violência num clima de impunidade generalizada", acrescentou.
Os confrontos no Sudão opõem o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), do general Mohamed Hamdane Daglo, ao exército regular, fiel ao general Abdel Fattah al-Burhan, que foram aliados no golpe de Estado de outubro de 2021.
No caos generalizado pelos confrontos, centenas de detidos fugiram de três prisões, nomeadamente de Kober, onde se encontrava o círculo íntimo do antigo ditador Omar al-Bashir, incluindo vários homens procurados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por "crimes de guerra" e "crimes contra a humanidade" no Darfur.
Shamdasani afirmou que a impunidade é um problema que se arrasta há muito tempo no Sudão e que explica "grande parte" da violência atual, que já fez mais de 500 mortos em quase duas semanas.
As Nações Unidas ainda não puderam verificar o número de mortos comunicado pelo Ministério da Saúde sudanês, mas Shamdasani alertou para o facto de ser provavelmente "grosseiramente subestimado".
"A situação dos direitos humanos continua a deteriorar-se dramaticamente", disse ainda.
Centenas de milhares de pessoas fugiram das suas casas e dezenas de milhares de outras procuraram refúgio nos países vizinhos.
O ACNUDH está igualmente preocupado "com o grave risco de escalada da violência no Darfur Ocidental", declarou Shamdasani, alertando para o facto de as hostilidades entre o exército e as RSF "terem desencadeado a violência intercomunitária".
"Em El Geneina, no Darfur Ocidental, foram registados confrontos étnicos mortais, tendo sido mortas cerca de 96 pessoas desde 24 de abril", afirmou.
O Sudão entrou hoje no décimo quarto dia consecutivo de confrontos entre o exército e as RSF, um conflito que já fez mais de 500 mortos e mais de 4.000 feridos e obrigou milhares de sudaneses a deslocarem-se para zonas mais seguras do país ou a refugiarem-se em nações vizinhas como o Sudão do Sul, o Egito ou o Chade.
As duas partes envolvidas no conflito iniciaram hoje uma trégua de 72 horas mediada pelos Estados Unidos da América e a Arábia Saudita para facilitar a retirada de estrangeiros no Sudão e abrir corredores seguros para a entrada de ajuda humanitária.
Nos últimos dias, apesar de terem sido anunciadas tréguas, têm-se verificado combates de baixa intensidade.
Vários países já concluíram as operações de retirada dos seus cidadãos e pessoal diplomático no Sudão, mas outros continuam o processo por terra, mar e ar.
Vinte portugueses que pretendiam deixar o Sudão já foram retirados no país, anunciou na quarta-feira, em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal.
Pelo menos 512 pessoas foram mortas e 4.193 ficaram feridas desde o início dos combates, principalmente em Cartum e Darfur (oeste), divulgou na quarta-feira o Ministério da Saúde sudanês.
Os combates seguiram-se a semanas de tensão sobre a reforma das forças de segurança nas negociações para a formação de um novo governo de transição.
Ambas as forças estiveram por trás do golpe conjunto que derrubou o executivo de transição do Sudão em outubro de 2021.
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