O relatório de 69 páginas intitula-se "'Quando nos movemos, eles atiraram': Violações das leis da guerra no conflito fronteiriço entre o Quirguistão e o Tajiquistão em setembro de 2022" e reporta a quatro dias de combates em 2022, de 14 a 17 de setembro.
"As forças do Quirguistão dispararam contra ambulâncias e carros que transportavam civis e, num caso, mataram pelo menos 10 civis num ataque com uma bomba (...) numa praça da cidade. As forças do Tajiquistão dispararam contra carros que transportavam civis, mataram (...) pelo menos oito civis (...) e permitiram a pilhagem e o incêndio em grande escala de bens privados em aldeias do Quirguistão", pode ler-se no documento.
"Os civis que vivem nas áreas fronteiriças disputadas do Quirguistão e do Tajiquistão pagaram um preço elevado pela conduta insensível das forças quirguizes e tajiques durante os combates de setembro", salientou um dos investigadores de crises e conflitos da Human Rights Watch, Jean-Baptiste Gallopin, acrescentando que "as famílias das vítimas merecem justiça e indemnizações que abram caminho a uma resolução desta disputa em curso que respeite os direitos humanos".
A ONG sublinhou que o seu trabalho foca-se as violações do direito internacional humanitário e que "a organização não toma posição sobre qual dos lados iniciou o conflito".
No final de outubro e início de novembro, a Human Rights Watch entrevistou 86 pessoas de ambos os lados da fronteira, incluindo 69 sobreviventes, testemunhas ou familiares de vítimas. Os investigadores visitaram as aldeias afetadas, examinaram as munições que ficaram no terreno, verificaram 12 vídeos, analisaram imagens de satélite e construíram modelos 3D dos ataques.
A Human Rights Watch também enviou uma série de perguntas aos governos do Quirguistão e do Tajiquistão em dezembro de 2022 e março de 2023. "O governo do Quirguistão respondeu com informações sobre ataques contra os seus cidadãos, mas não deu informações sobre ataques envolvendo as suas próprias forças. O governo do Tajiquistão não respondeu às perguntas da Human Rights Watch", indicou.
No total, a Human Rights Watch documentou a morte de 37 civis, incluindo cinco crianças, e ferimentos em 36 outras pessoas de ambos os lados. "Relatos da imprensa e listas oficiais de vítimas indicam que o número total pode chegar a 51 civis mortos e 121 feridos. Estima-se que 130.000 pessoas tenham sido deslocadas só no Quirguizistão e, em janeiro de 2023, pelo menos 4.000 ainda não tinham regressado às suas casas", aponta-se no relatório.
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