"Ambas as partes reconheceram a natureza humanitária da questão das pessoas desaparecidas e apontaram a necessidade urgente de esforços conjuntos adicionais para aliviar a situação das famílias afetadas e da comunidade em geral", sublinhou o alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, que organizou o encontro, em conjunto com o mediador europeu para o Kosovo, Miroslav Lajcak.
Na agenda do encontro de hoje em Bruxelas esteve a procura dos desaparecidos após a guerra de 1998/1999 entre as forças sérvias e os guerrilheiros separatistas albaneses do Kosovo, mas também a criação da associação de municípios de maioria sérvia no Kosovo, um dos grandes obstáculos no diálogo.
Vucic e Kurti, que se encontraram pela primeira vez desde que os dois concordaram, em março, com um programa para aplicar o novo plano da UE para normalizar as relações entre a Sérvia e a sua antiga província, reconheceram o trabalho realizado pelo Grupo de Trabalho sobre Pessoas Desaparecidas, presidido por Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
Além de assinar a declaração sobre pessoas desaparecidas, os governantes comprometeram-se a chegar a um acordo sobre os detalhes operacionais correspondentes na próxima reunião do diálogo patrocinado pela UE, no nível dos principais negociadores.
De acordo com o comunicado, as partes comprometeram-se a "cooperar estreitamente na identificação de locais de sepultamento e monitorização das escavações", bem como "assegurar o pleno acesso a informações confiáveis e precisas para ajudar a localizar e identificar" os restantes desaparecidos entre 01 de janeiro de 1998 e 31 de dezembro de 2000.
Estas informações incluem todos os materiais, notas, pedidos, documentos, vídeos, gravações de áudio e outros documentos, incluindo aqueles de natureza confidencial, que são mantidos por instituições de ambas as partes e são relevantes neste contexto, indicaram.
Da mesma forma, Vucic e Kurti comprometeram-se a disponibilizar toda a documentação nacional e internacional importante para determinar o destino das pessoas desaparecidas, bem como usar dados de satélite e outras tecnologias avançadas para detetar valas comuns.
Além disso, afirmaram que permitirão e incentivarão a participação ativa das famílias das pessoas desaparecidas no processo de determinação de seu paradeiro e que "garantirão adequadamente" os direitos e atenderão às necessidades das famílias dessas pessoas.
Os governantes também sinalizaram o seu compromisso de estabelecer e trabalhar juntos através de uma comissão conjunta presidida pela UE e monitorada pelo CICV para encontrar os desaparecidos.
"Parabenizo os líderes por adotarem uma declaração conjunta e concordarem em promover a cooperação no âmbito dos mecanismos existentes liderados pelo CICV para garantir a plena implementação de seus respetivos compromissos", enfatizou Borrell.
O diplomata espanhol lembrou que, dos 6.065 casos de pessoas desaparecidas no referido período, 1.621 permanecem sem solução.
Belgrado e Pristina aceitaram em fevereiro passado um acordo sobre a normalização das suas relações, um compromisso proposto pela UE, com o apoio dos Estados Unidos, na sequência de fortes tensões em dezembro que ameaçavam um reinício do conflito.
Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral da sua antiga província do sul em 2008, proclamada na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e que motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
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