"A missão de paz vai acontecer. Estou surpreendido por tanto Kyiv como Moscovo terem dito que não sabiam disso", declarou Parolin, falando com a imprensa à margem de um evento sobre um bispo italiano falecido, Tonino Bello, na Universidade Lumsa, em Roma.
O Papa Francisco cumprimentou hoje o "ministro dos Negócios Estrangeiros" do patriarca ortodoxo de Moscovo, alimentando especulações sobre uma missão de paz na Ucrânia do Vaticano a que já se referira, mas da qual tanto Moscovo como Kyiv disseram nada saber.
No final de uma audiência geral na Praça de São Pedro, no momento do 'beija-mão' no adro do Vaticano, o Papa saudou primeiro o metropolita ortodoxo Antonij de Volokolamsk, presidente do Departamento de Relações Externas do Patriarcado de Moscovo.
Francisco beijou a cruz ao peito de Antonij e trocou presentes e algumas palavras com ele.
Antes de assumir este cargo, Antonij -- que sucedeu a Hilarion como "chefe da diplomacia" do Patriarca Kirill - foi pároco da igreja de Santa Catarina Mártir, em Roma, a poucos passos do Vaticano.
A agência russa TASS noticiou que o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou na terça-feira que a Rússia "não tem conhecimento" de uma missão de paz do Vaticano sobre a Ucrânia.
Tal declaração foi emitida depois de um responsável da Presidência da República ucraniana ter dito na segunda-feira à estação televisiva norte-americana CNN desconhecer qualquer missão de paz envolvendo o Vaticano.
"Se há negociações, elas estão a decorrer sem o meu conhecimento", afirmou o responsável do gabinete presidencial ucraniano.
No domingo, o Papa Francisco tinha indicado que o Vaticano estava envolvido numa missão de paz para tentar pôr fim à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, embora não tenham até agora sido divulgados pormenores sobre ela.
"Há uma missão em preparação agora, mas ainda não é pública. Quando for pública, eu falarei sobre ela", disse o Papa à imprensa durante o voo de regresso da Hungria.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 434.º dia, 8.709 civis mortos e 14.666 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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