Segundo o porta-voz da Liga Árabe, Gamal Rushdy, a reunião ocorre numa altura em que alguns países árabes, incluindo o Egito e a Arábia Saudita, restauraram relações político-diplomáticas com o Presidente sírio, Bashar al-Assad, tendo os chefes da diplomacia egípcio e saudita visitado mesmo Damasco nas últimas semanas.
Ambas as visitas surgiram na sequência da deslocação do ministro dos Negócios Estrangeiros sírio ao Cairo e Riade, em abril, as primeiras em mais de uma década.
Logo após o início do conflito sírio, em 2011, a Síria foi suspensa da Liga Árabe, organização com 22 países que, na sua maioria, impuseram, posteriormente, sanções económicas ao regime de Damasco.
O conflito sírio matou quase meio milhão de pessoas desde março de 2011, obrigando mais de metade dos 23 milhões de habitantes a refugiarem-se fora do seu local de residência e em países vizinhos.
A Arábia Saudita é a anfitriã da próxima cimeira da Liga Árabe, marcada para 19 deste mês, altura em que se espera que a adesão da Síria esteja já em cima da mesa.
Alguns membros, sobretudo o Qatar, rico em gás, opõem-se ao regresso de Damasco à organização.
Em novembro de 2011, 18 dos 22 membros da Liga Árabe apoiaram a suspensão da Síria. O Líbano, o Iémen e a Síria votaram contra a decisão, enquanto o Iraque se absteve.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, disse hoje à cadeia de televisão norte-americana CNN que acredita haver votos suficientes entre os membros da Liga Árabe para que a Síria regresse à organização.
A reunião dos chefes da diplomacia árabes de domingo, no Cairo, vai centrar-se na possibilidade de se efetivar o regresso da Síria à Liga Árabe, pedido feito nesse sentido pelo Egito e pela Arábia Saudita, realçou Rushdy, o porta-voz da Liga Árabe.
Quando questionado sobre a contagem dos votos, Rushdy disse que as decisões da Liga Árabe são resoluções normalmente tomadas por consenso, mas cada país tem o direito de apresentar as suas reservas.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros vão também analisar o conflito sudanês, que mergulhou o país no caos quando, em meados de abril, eclodiram combates entre os dois generais rivais mais importantes do país, guerra que já provocou a morte a mais de 400 pessoas.
O conflito teve início a 15 de abril, precedido de meses de uma escalada de tensões entre os militares, liderados pelo general Abdel-Fattah Burhan, e o grupo paramilitar rival Forças de Apoio Rápido (RSF), comandado pelo general Mohamed Hamdan Dagalo.
Os combates transformaram as zonas urbanas em campos de batalha e os governos estrangeiros apressaram-se a evacuar do Sudão os seus diplomatas e milhares de cidadãos estrangeiros.
Além da Síria e do Sudão, os chefes da diplomacia dos países árabes vão também analisar e discutir os recentes acontecimentos em Israel e nos territórios palestinianos.
Um diplomata iraquiano, que solicitou anonimato, disse à agência noticiosa Associated Press (AP) que, nos últimos anos, à medida que al-Assad consolidava o controlo sobre a maior parte do país com a ajuda dos seus principais aliados, a Rússia e o Irão, os vizinhos da Síria começaram a dar passos no sentido da aproximação.
Esse processo começou depois do potente sismo que, a 06 de fevereiro, assolou e destruiu grande parte do Turquia e da Síria, acelerado pelo restabelecimento das relações entre a Arábia Saudita e o Irão, que tinham apoiado lados opostos no conflito sírio, em reuniões mediadas pela China.
Em abril, a Síria e a Arábia Saudita confirmaram que estavam a avançar para a reabertura de embaixadas e para a retoma dos voos entre os dois países pela primeira vez em mais de uma década.
Hoje, o diário pró-governamental sírio Al-Watan revelou que uma delegação do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Síria visitou recentemente a embaixada do país em Riade, primeiro passo para a reabertura da missão diplomática, processo que deverá ficar concluído nas próximas semanas.
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