"A minha prioridade das prioridades, claramente, é estabilizar o país para haver paz, [...] promover o diálogo interno, estabelecer um clima de confiança entre atores políticos, entre os governantes e o povo porque o país vive um clima de défice de confiança", disse o candidato pelo Movimento para Alternância Democrática (Madem-G15) às eleições legislativas de 04 de junho, em entrevista à agência Lusa em Lisboa.
Questionado sobre o motivo para se candidatar a primeiro-ministro, Braima Camará disse que tem uma "proposta de solução para os problemas da Guiné-Bissau", argumentando que já deu provas enquanto empresário.
Entre as qualidades que disse ter para exercer o cargo, destacou ainda que é conhecido na Guiné-Bissau como "um homem do consenso" e que "consegue estabelecer pontes de diálogo na base da confiança entre todos os atores políticos e não políticos", considerando que o facto de ter sido conselheiro especial de vários Presidentes "é uma mais-valia".
Sobre se está confiante numa maioria absoluta, disse que "seria uma surpresa" se isso não acontecesse.
"Tenho toda a absoluta confiança, se Deus quiser, de que estão reunidas as condições para que o nosso partido possa ganhar no mínimo dos mínimos com maioria absoluta", disse, considerando que isso será possível graças ao "desempenho do partido" e ao trabalho dos membros do Madem-G15 no Governo, integrado ainda pela Assembleia do Povo Unido -- Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB) e pelo Partido da Renovação Social (PRS).
Questionado sobre eventuais coligações caso não consiga a maioria absoluta, disse que não quer "particularizar nem partidarizar", mas manifestou disponibilidade "para governar o país com todas as competências da Guiné-Bissau", mesmo "ganhando com maioria qualificada".
Em relação à resposta que vai dar quando for confrontado durante a campanha eleitoral, que começa no sábado, com as necessidades do povo, Braima Camará disse que vai antes "pedir a confiança" e a oportunidade para "poder ganhar as eleições".
"A minha preocupação, a razão da minha luta, a razão que me fez decidir criar essa terceira via é exatamente a pensar no meu povo, no meu país, e o povo sabe disso", acrescentou.
Empresário na área do turismo e no comércio de castanha de caju, Braima Camará, conhecido no país como "Ba di povo", fundou o Madem-G15 juntamente com um grupo de dissidentes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e nas primeiras legislativas em que participou, em 2019, conseguiu eleger 27 dos 102 lugares da Assembleia Nacional Popular.
Questionado sobre o facto de aparecer nos materiais de campanha em fotos ao lado do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, o coordenador do Madem-G15 alegou que "nenhum articulado da Constituição" o impede.
A Constituição guineense estipula no artigo 65 que "as funções de Presidente da República são incompatíveis com quaisquer outras de natureza pública ou privada". Braima Camará argumentou que "uma foto é uma imagem, não é função", defendendo que todos os outros partidos podem fazer o mesmo.
Sissoco Embaló foi eleito em 2019 com o apoio do Madem-G15, partido que ajudou a fundar, mas entregou o cartão de militante quando tomou posse.
Em declarações aos jornalistas na terça-feira, à margem de um encontro do Governo guineense com o FMI, o Presidente disse que "todos os partidos estão autorizados" a usar a sua imagem, considerando que "isso não é inconstitucional".
Embaló salientou, contudo, que, por ser chefe de Estado, não pode exercer funções partidárias.
Braima Camará reiterou que vai apoiar a candidatura do chefe de Estado a um novo mandato, elogiando-o por ter conseguido "conquistar a confiança da comunidade Internacional" e "resgatar a soberania" da Guiné-Bissau.
Sobre as divergências com o Presidente, em declarações públicas em julho de 2021, o líder do Madem-G15 recusa agora qualquer crispação, afirmando que não se estava a referir a Sissoco Embaló quando disse que não se pode promover a ditadura e que se recusava a pertencer a regimes que não respeitam as regras do Estado de Direito.
Na altura, o Presidente respondeu a estas declarações, afirmando que não é um ditador e que o país é um Estado de Direito.
Instado a comentar os ataques a ativistas e opositores políticos denunciados por organizações da sociedade civil, Braima Camará escusou-se a falar de casos particulares, mas definiu-se como "um homem de princípios democráticos" que gosta "de viver e conviver respeitando as leis da República dentro e fora do país".
"Sou um homem de paz, sou um homem de diálogo, primo pela paz, pela respeitabilidade da vida humana, pelas leis da República, é o que me move na política", concluiu.
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