No meio das consequências diplomáticas das alegações dos Estados Unidos, o ministro dos Negócios Estrangeiros sul-africano, Naledi Pandor, vai também falar com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, informou o Departamento de Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, num comunicado publicado na rede social Twitter pelo porta-voz Clayson Monyela.
O embaixador norte-americano na África do Sul, Reuben Brigety, disse numa conferência de imprensa na quinta-feira que a África do Sul tinha carregado armas e munições num navio russo sancionado na Base Naval de Simon's Town, perto da Cidade do Cabo, em dezembro do ano passado. As armas foram então transportadas para a Rússia, disse Brigety.
"Nós (Estados Unidos) estamos confiantes de que foram carregadas armas nesse navio e eu apostaria a minha vida na exatidão dessa afirmação", disse Brigety, classificando o "armamento" da Rússia pela África do Sul como "fundamentalmente inaceitável".
Na sequência dos comentários de Brigety, o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, confirmou que estava em curso uma investigação sobre a visita do cargueiro russo "Lady R" em dezembro.
Essa investigação tinha começado antes de Brigety ter vindo a público com a sua acusação e utilizaria quaisquer provas que os funcionários dos serviços secretos dos Estados Unidos tivessem sobre as alegadas armas, disse Ramaphosa.
Mas o seu gabinete disse, num comunicado, que "não há provas" de que as armas tenham sido carregadas no navio na África do Sul.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros acrescentou hoje, numa declaração, que não havia "qualquer registo de uma venda de armas aprovada pelo Estado à Rússia relacionada com o período/incidente em questão".
A agência Associated Press (AP) apurou que o "Lady R" visitou de facto a base naval sul-africana, de 06 a 08 de dezembro, como afirmou Brigety.
Uma análise dos registos feita pela AP também mostrou que o "Lady R" está ligado a uma empresa que foi sancionada pelos Estados Unidos por transportar armas para o governo russo e ajudar no seu esforço de guerra.
A questão ameaça afetar seriamente a relação entre os EUA e um dos seus principais parceiros africanos.
Monyela disse que a África do Sul iria emitir uma "demarche" - um termo diplomático que se refere a uma queixa formal - contra Brigety pelas suas alegações.
O porta-voz também disse na sua mensagem no Twitter que a África do Sul "valoriza as relações com os Estados Unidos da América", que "são cordiais, fortes e mutuamente benéficas".
O gabinete de Ramaphosa criticou Brigety na quinta-feira por tornar públicas as alegações.
A posição da África do Sul sobre a guerra na Ucrânia tem incomodado os Estados Unidos e outras nações ocidentais desde que o país mais desenvolvido de África se absteve no ano passado numa votação das Nações Unidas que condenou a invasão da Rússia.
A África do Sul declarou que adotaria uma posição neutra em relação à guerra e que preferia apelar a uma solução diplomática e ao fim dos combates.
Os críticos afirmam que a África do Sul se aliou à Rússia depois de ter recebido o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, para conversações em janeiro e de ter permitido que navios de guerra russos e chineses utilizassem as suas águas para exercícios navais conjuntos ao largo da sua costa oriental, em fevereiro.
Os exercícios coincidiram com o aniversário de um ano da invasão russa da Ucrânia.
O Governo sul-africano também indicou que não estaria disposto a prender o Presidente russo, Vladimir Putin, se este se deslocar, como previsto, para uma reunião dos líderes do bloco económico BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em agosto, apesar de o Tribunal Penal Internacional (TPI) ter emitido um mandado de captura contra ele.
A África do Sul é signatária do TPI e é obrigada a prender Putin se este entrar no seu território.
A África do Sul tem uma relação histórica com a Rússia devido ao apoio da antiga União Soviética ao Congresso Nacional Africano (ANC), no poder, quando este era um movimento de libertação que lutava para pôr fim ao regime de segregação do 'apartheid' que oprimia a maioria negra do país.
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