Os manifestantes concentraram-se em frente ao edifício do parlamento antes de iniciarem o percurso do protesto, passando pela sede do Governo, em direção a uma ponte rodoviária sobre o rio Sava, obrigando o trânsito de fim de tarde a inverter a marcha para não ficar ali retido.
A encabeçar o cortejo, havia uma faixa preta, onde se lia "Sérvia Contra a Violência".
Enquanto passavam pelos edifícios do Governo, muitos manifestantes repetiam palavras de ordem condenando o Presidente populista da Sérvia, Aleksandar Vucic, que culpam por criar um clima de desesperança e divisão na sociedade que consideram ter indiretamente levado aos assassínios em massa.
Os meios de comunicação social pró-governamentais criticaram o bloqueio da ponte, com o jornal diário Novosti a titular "Assédio começou, 'hooligans' bloquearam a ponte".
Mas o político da oposição Srdjan Milivojevic disse à estação televisiva N1 tratar-se de "uma batalha pela sobrevivência", acrescentando: "Se o Presidente não entende o seu povo, está na altura de se demitir".
A polícia não interveio, segundo relataram as agências internacionais.
Antes da marcha, Vucic, que controla quase todos os poderes no país, declarou que o protesto popular equivalia a "violência na política" e "assédio" por parte dos cidadãos, mas indicou que a polícia não se envolveria "a menos que a vida das pessoas estivesse em perigo".
"O que lhes dá o direito de colocar obstáculos à vida normal das outras pessoas?", disse Vucic, acusando os líderes da oposição de "abusarem da tragédia", após os tiroteios que abalaram profundamente a nação e desencadearam apelos para a mudança.
"Eles (os manifestantes) estão a assediar os cidadãos ao não lhes permitirem circular", insistiu o chefe de Estado sérvio, acrescentando: "Mas nós não gostamos de bater nos manifestantes, como fazem França e a Alemanha".
A marcha de hoje ocorreu quase uma semana depois de um primeiro protesto em Belgrado que também concentrou milhares de pessoas e de manifestações em vilas e cidades de todo o país.
Nesse protesto na capital, os manifestantes exigiram a demissão dos ministros e a retirada de licenças de emissão a duas estações de televisão privadas que são próximas do poder e promovem a violência, convidando frequentemente para os seus programas criminosos de guerra condenados e outras figuras do crime.
Os dois tiroteios ocorreram em dois dias consecutivos e fizeram 17 mortos e 21 feridos: a 03 de maio, um rapaz de 13 anos usou a arma do pai para abrir fogo na sua escola, no centro de Belgrado; no dia seguinte, um rapaz de 20 anos disparou aleatoriamente sobre pessoas numa zona rural a sul da capital.
Os partidos da oposição acusaram o Governo populista de Vucic de alimentar a intolerância e o discurso de ódio enquanto assume o controlo de todas as instituições.
Vucic rejeitou tal acusação e convocou o seu próprio comício para 26 de maio, em Belgrado, dizendo que será "o maior de sempre".
"Nós não organizamos concentrações espontâneas para brincar com as emoções das pessoas", insistiu Vucic.
"O nosso será um comício de unidade, onde anunciaremos decisões políticas importantes", frisou.
O Presidente sérvio também disse à imprensa que os cidadãos tinham entregado mais de 9.000 armas desde que a polícia anunciou uma amnistia de um mês para quem quisesse entregar armas não-registadas e munições, período findo o qual enfrentariam possíveis penas de prisão.
Estima-se que a Sérvia seja um dos países da Europa onde existe um maior número de armas 'per capita', muitas das quais remanescentes do período das guerras da ex-Jugoslávia, na década de 1990.
Outras medidas de combate à disseminação de armas no país, após os assassínios em massa, incluem a proibição de emissão de novas licenças de porte de armas, controlo mais rigoroso a proprietários de armas e de carreiras de tiro e punições mais pesadas para a posse ilegal de armas.
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