As duas analistas, Anwita Basu, diretora do Risco [Económico] para os Países Europeus, e Ramona Moubarak, diretora do Risco [Económico] para os Países do Médio Oriente e Norte de África (MENA), falavam num 'webinar' promovido pela BMI -- FitchSolutions Company, que se limitou a analisar a parte política das eleições turcas de 14 deste mês.
Ambas admitiram que uma possível vitória do oposicionista Kemal Kilicdaroglu, sobre Recep Tayyip Erdogan, líder do Partido da Justiça e Desenvolvimento e que governa a Turquia há cerca de 20 anos, provocaria uma incógnita a todos os níveis -- económico, político e geopolítico --, mas admitiram que tal cenário será difícil.
"É possível uma vitória de Kilicdaroglu, mas a dinâmica de vitória de Erdogan nas legislativas (realizadas no mesmo dia), com uma maioria reforçada no Parlamento [325 dos 600 deputados], a par da proximidade da visão de [candidato ultranacionalista Sinan Ogan] às ideias do Presidente cessante, torna-a difícil", sublinhou Anwita Basu.
No entanto, e apesar das alterações à Constituição promovidas por Erdogan, conferindo maiores poderes ao chefe de Estado, a aprovação de medidas no Parlamento precisa de uma maioria de três quintos (precisaria de 360 deputados), algo que o Presidente cessante não conseguiu alcançar, deixando um impacto "estranho" na vida político do país em caso de vitória de Kilicdaroglu.
No entanto, uma eventual coabitação Kilicdaroglu e a força política de Erdogan no Parlamento também não traria grandes vantagens ao líder da oposição, face à possibilidade de vetos sistemáticos do Partido da Justiça e Desenvolvimento, o que poderá levar o eleitorado turco a optar pela estabilidade, defendeu Basu.
De acordo com os resultados da primeira volta das presidenciais, Erdogan obteve 49,51 por cento dos votos, contra 44,88% de Kilicdaroglu, e os 5,3% de Ogan (um ultranacionalista que disputou a perdeu a liderança dos nacionalistas de extrema-direita do Partido do Movimento Nacionalista, aliado de Erdogan), numas eleições que contaram com uma expressiva taxa de participação, próxima dos 94%.
Destacando precisamente essa elevada taxa de participação eleitoral, Basu admitiu que eram "grandes" as expectativas de mudança de regime, sublinhando ter ficado surpreendida com os resultados, mesmo até com os da "nova noiva" que terá agora de ser "cortejada" quer por Erdogan quer por Kilicdaroglu.
Apesar de Ogan já ter dado indicações de que não irá apoiar nenhum dos candidatos, é certo que o seu eleitorado está mais próximo de Erdogan, sobretudo no que diz respeito à comunidade curda e também síria, que quer ver fora do solo turco e que o Presidente cessante considera associada a conceitos terroristas.
Já a diretora para o risco económico para os países do Médio Oriente e Norte de África da BIM -- FitchSolutions Company defendeu que uma vitória de Kilicdaroglu na segunda volta "poderá mudar significativamente a correlação das forças" no quadro macroeconómico da região.
Para Ramona Moubarak, quer Erdogan quer Kilicdaroglu são coincidentes nessa correlação de forças, com ambos a manifestarem A vontade de "aprofundar cada vez mais" as ligações ao Conselho de Cooperação do Golfo (CCG, que representa cerca de 10% a 15% do investimento, contra os cerca de 80% da Europa).
"A estabilidade macroeconómica é fundamental para a Turquia que, tal como o Egito, vai procurar obter maior investimento por parte dos países do CCG", sublinhou Ramona Moubarak, salientando que, vença quem vencer, a Turquia continuará a ser um país economicamente viável.
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