A visita de Mishustin ocorre numa altura em que a Rússia se está a voltar cada vez mais para a China em busca de apoio diplomático e económico para compensar o crescente isolamento internacional suscitado pela guerra na Ucrânia.
Em comentários proferidos no início da reunião com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, Mishustin não mencionou a guerra, que a China, em deferência a Moscovo, recusou-se a criticar, concentrando-se antes na cooperação económica entre os países vizinhos, que estabeleceram uma parceria estratégica, visando desafiar a liderança dos Estados Unidos nos assuntos globais.
As relações entre os dois países estão "a um nível sem precedentes", influenciadas pelo "aumento da turbulência no cenário internacional e pela pressão sensacionalista imposta pelo Ocidente colectivo", disse Mishustin.
A China afirmou ser neutra no conflito na Ucrânia e que quer desempenhar o papel de mediador, mas mantém uma relação "sem limites" com a Rússia e culpou o alargamento da NATO pelo conflito. As trocas comerciais entre China e Rússia aumentaram 34,3% no ano passado, permitindo a Moscovo atenuar os efeitos das sanções impostas pelo Ocidente.
O representante especial da China para os assuntos eurasiáticos, Li Hui, reuniu com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, e outros funcionários do governo da Ucrânia, durante negociações em Kiev, este mês. A visita seguiu-se a um telefonema no mês passado entre o líder ucraniano e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, que Zelenskyy descreveu como "longo e significativo" e que marcou o primeiro contacto conhecido entre os dois desde o início da invasão russa.
Pequim divulgou um plano de paz em fevereiro que foi amplamente rejeitado pelos aliados da Ucrânia, que insistem que as forças russas devem primeiro retirar-se do território ucraniano. O plano de paz de 10 pontos do próprio Zelenskyy inclui um tribunal para processar crimes de guerra cometidos pela Rússia.
Em Pequim, Mishustin enfatizou o papel da Rússia como fornecedora de petróleo e gás para a China e os laços históricos entre os dois países.
"Os povos da Rússia e da China valorizam a sua história, culturas e tradições ricas. Apoiamos o desenvolvimento da nossa cultura, o intercâmbio e a comunicação", disse.
As palavras de Mikhail Mishustin surgem após os países membros do G7 (as sete democracias mais industrializadas) terem emitido fortes críticas contra os dois países, durante a cimeira do fim de semana passado, que se realizou no Japão.
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