"A UE insta as autoridades do Kosovo e os manifestantes a desescalarem imediata e incondicionalmente a situação. Esperamos que as partes atuem com responsabilidade e encontrem uma solução política através do diálogo imediatamente", frisou o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, através da rede social Twitter.
Numa nota de condenação à "violência chocante", Borrell frisou que "os atos violentos cometidos contra a KFOR, jornalistas, civis e polícias são absolutamente inaceitáveis".
Cerca de trinta membros da força internacional liderada pela NATO no Kosovo ficaram feridos esta segunda-feira em confrontos com manifestantes sérvios, minoria no Kosovo mas grupo maioritário no norte do país, que se manifestavam em frente à Câmara Municipal da localidade de Zvecan para exigir a demissão do novo presidente da autarquia, pertencente à maioria albanesa.
Os sérvios do norte do Kosovo não reconhecem a autoridades dos novos presidentes das câmaras, eleitos em abril num escrutínio em que a participação foi de apenas 3%, devido ao boicote da população sérvia, que é uma minoria no país, mas constitui uma larga maioria em quatro municípios do norte kosovar.
Os sérvios renunciaram em massa em novembro às instituições locais da região e Pristina decidiu organizar eleições municipais na tentativa de acabar com o vazio institucional.
Incidentes já haviam ocorrido na sexta-feira, quando autarcas albaneses kosovares tomaram posse acompanhados por polícias.
Os manifestantes sérvios, que se reuniram em particular em frente à autarquia de Zvecan, exigiram esta segunda-feira a retirada dos vereadores albaneses, mas também das forças policiais do Kosovo, contra as quais se depararam.
Soldados da KFOR, armados com escudos e bastões, inicialmente tentaram separar os dois lados antes de começar a dispersar a multidão, informou um jornalista da agência France-Presse (AFP).
Os manifestantes responderam e atiraram pedras e bombas incendiárias improvisadas ("cocktail molotov") contra os soldados, antes de serem empurrados para fora daquela zona.
Segundo o Ministério da Defesa húngaro, mais de 20 soldados húngaros estão entre os feridos, sete dos quais sofreram ferimentos graves.
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros de Itália, Antonio Tajani, revelou no Twitter que 11 soldados italianos ficaram feridos.
Estes militares "foram alvo de ataques não provocados e sofreram lesões traumáticas com fraturas ósseas e queimaduras decorrentes da explosão de engenhos incendiários", referiu a KFOR em comunicado, referindo-se a "cerca de 25 militares".
Pelo menos 52 sérvios ficaram feridos nestes incidentes, três destes gravemente, adiantou o Presidente sérvio Aleksandar Vucic em Belgrado, acrescentando que um homem de 50 anos foi baleado e ferido por "forças especiais" da polícia kosovar.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, sublinhou que "os sérvios lutam pelos seus direitos no norte de Kosovo" e que "ameaça ocorrer uma grande explosão no coração da Europa, onde a OTAN levou a cabo uma agressão contra a Jugoslávia em 1999", numa referência à intervenção da Aliança Atlântica contra Belgrado que terminou com a guerra entre forças sérvias e combatentes da independência albaneses kosovares.
Aleksandar Vucic, que na sexta-feira ordenou que o exército sérvio ficasse em alerta máximo, como tem acontecido regularmente nos últimos anos, destacou ainda esta segunda-feira que as unidades destacadas junto da fronteira com o Kosovo foram posicionadas em posições "essenciais".
Em Roland Garros, o astro do ténis sérvio Novak Djokovic, cujo pai nasceu em Kosovo, abordou a situação no final da sua estreia no torneio contra o norte-americano Aleksandar Kovacevic: "Kosovo é o coração da Sérvia. Pare a violência", escreveu nas lentes de uma câmara, após a vitória.
A Sérvia nunca reconheceu a independência proclamada em 2008 pela sua antiga província e as tensões surgem regularmente entre Belgrado e Pristina. Cerca de 120.000 sérvios vivem em Kosovo, cerca de um terço destes no norte do território.
Os dois países estão a negociar a normalização das suas relações com base num novo plano da UE, apoiado por Washington, num processo com frequência interrompido pela ocorrência de confrontos.
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