O antigo presidente norte-americano, Donald Trump, foi indiciado por 37 crimes no caso dos documentos secretos da Casa Branca que guardou na sua mansão em Mar-a-Lago, na Florida, segundo a ata de acusação, divulgada esta sexta-feira.
De acordo com a acusação histórica, Trump colocou em risco a "segurança nacional" dos Estados Unidos ao manter na sua posse segredos nucleares norte-americanos após a sua saída da Casa Branca.
O documento divulgado pelo Departamento de Justiça, que é a confirmação oficial da acusação que o próprio ex-presidente (2017-2021) avançou na quinta-feira, também implica Walt Nauta, antigo assistente de Trump que foi visto a retirar caixas com documentos classificados da mansão Trump, em Palm Beach. O responsável enfrenta seis acusações, de acordo com a ata hoje divulgada.
Trump é acusado de perjúrio e de ter combinado com Walt Nauta a ocultação de documentos solicitados pela polícia federal norte-americana, o FBI.
O ex-presidente foi acusado num tribunal de Miami de 37 crimes federais, incluindo retenção ilegal de segredos do governo, obstrução da justiça e conspiração. Na verdade, o candidato às eleições presidenciais de 2014 é acusado de ter colocado em risco alguns dos maiores segredos de segurança dos Estados Unidos, que poderão colocar em evidência as vulnerabilidades do país em caso de ataque
A sua audiência em tribunal está marcada para a próxima terça-feira, um dia antes do seu 77.º aniversário.
Também esta sexta-feira, os advogados de Donald Trump Jim Trusty e John Rowley renunciaram às suas funções, após a acusação contra o ex-presidente ser conhecida.
"Sou inocente", destacou Trump, ao mesmo tempo que denunciou "caça às brucas"
Trump será representado por Todd Blanche, advogado que já fez parte de sua equipa jurídica de Nova Iorque, naquela que classificou como a "maior caça às bruxas de todos os tempos, que agora se encaminha para os tribunais da Florida".
"Sou inocente", destacou na sua rede social Truth Social, onde se apresentou como vítima de um complô orquestrado pelos seus oponentes democratas.
Já o presidente democrata Joe Biden, também recandidato às eleições de 2024, garantiu hoje que não vai entrar em contacto com o secretário da Justiça, Merrick Garland, sobre esta matéria delicada.
Nos Estados Unidos, uma lei obriga os presidentes a enviarem todos os seus 'e-mails', cartas e outros documentos de trabalho aos arquivos nacionais.
Em janeiro de 2021, quando deixou a Casa Branca para se instalar na sua luxuosa residência em Mar-a-Lago, na Florida, Donald Trump levou dezenas de caixas cheias de arquivos. Um ano depois, após vários avisos, devolveu 15 caixas contendo quase 200 documentos classificados.
O FBI, no entanto, calculou que Trump não tinha devolvido tudo, o que resultou numa operação de busca em Palm Beach pelos agentes federais 08 de agosto e na apreensão de cerca de trinta outras caixas, contendo 11.000 documentos.
Segundo a acusação, foram encontrados documentos classificados "num salão de baile", mas também "numa casa de banho, na banheira", num "escritório" ou "num quarto".
Estes "incluíam informações sobre as capacidades de defesa dos Estados Unidos e de países estrangeiros", "sobre os programas nucleares americanos" e "sobre potenciais vulnerabilidades no caso de um ataque aos Estados Unidos e seus aliados".
A sua potencial "divulgação teria posto em perigo a segurança nacional dos Estados Unidos, as suas relações internacionais", destacou o procurador especial Jack Smith, nomeado em novembro para supervisionar a investigação de forma independente.
Por agora, os republicanos estão a cerrar fileiras em torno de Donald Trump, incluindo os seus rivais pela indicação presidencial do partido, da qual ele está à frente com grande vantagem segundo as sondagens.
Esta solidariedade foi manifestada em abril, quando a justiça do Estado de Nova Iorque também indiciou Trump, desta vez por fraude contabilística como parte de um pagamento em 2016 a uma atriz de filmes pornográficos para que esta ocultasse um alegado caso.
Trump ainda pode enfrentar mais problemas com a justiça nos próximos meses, pois uma procuradora da Geórgia deve anunciar até setembro o resultado da sua investigação sobre a pressão exercida pelo ex-presidente para tentar mudar o resultado eleitoral de 2020.
O procurador Jack Smith, que durante a sua carreira processou autores de crimes de guerra no Kosovo, investiga ainda o papel de Donald Trump no ataque ao Capitólio em 06 de janeiro de 2021.
[Notícia atualizada às 21h04]
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