"Se isto continuar, então possivelmente teremos de considerar a questão, e digo isto com muito cuidado, de criar em território ucraniano uma espécie de zona sanitária a uma distância tal que será impossível atingir o nosso território", disse Putin durante um encontro com correspondentes de guerra russos no Kremlin, transmitido pela televisão estatal, citado por agências internacionais de notícias.
Putin admitiu a necessidade de proteger melhor a fronteira dos ataques, sabotagens e incursões ucranianas, especialmente na região de Belgorod.
"É claro que temos de proteger os nossos cidadãos (...), a segurança das fronteiras tem de ser reforçada", afirmou.
Putin sublinhou que, "em princípio, poder-se-ia pensar que o inimigo se comportaria desta forma (...) e, certamente, preparar-se-ia melhor".
"O processo está a decorrer muito rapidamente. Este problema será resolvido", afirmou o líder russo, que tem sido amplamente criticado pela forma como lidou com a crise causada em vários distritos de Belgorod por incursões de paramilitares russos leais a Kiev.
O Presidente russo sublinhou que na região, que partilha uma fronteira de 540 quilómetros com a Ucrânia, "não há ninguém" do inimigo, uma vez que o exército e os guardas fronteiriços estão a operar ativamente em Belgorod.
Putin afirmou que Kiev quer que Moscovo desvie as suas tropas da linha da frente para a fronteira ucraniana, o que Putin rejeitou liminarmente.
Quanto aos ataques de drones em território russo, Putin reconheceu que a defesa antimíssil é concebida contra aviões e mísseis e que os drones modernos são feitos de materiais leves, "feitos de madeira, bastante difíceis de detetar".
"É claro que teria sido melhor se tivesse sido feito no momento certo e de forma adequada", disse, embora tenha afirmado estar "convencido" da defesa de Moscovo e de outras grandes cidades.
No início de maio, dois drones atingiram a cúpula do Palácio do Senado, onde se situa o gabinete pessoal do líder russo.
Ao mesmo tempo, considerou desnecessário declarar a lei marcial no país, o que foi pedido por alguns políticos e bloguistas militares, uma vez que tal regime implicaria a mobilização de milhões de reservistas.
"As pessoas terão de ser trazidas de volta a casa em algum momento, essa questão está a ser discutida no Ministério da Defesa", disse o chefe do Kremlin.
O Presidente russo recordou que a lei não prevê uma data específica para o regresso dos mobilizados e que tudo dependerá da situação na frente de batalha.
Insistiu que, nas condições atuais, "não há necessidade" de anunciar uma nova mobilização, embora tenha dito estar ciente dos apelos de algumas figuras públicas para "mobilizar mais um milhão ou dois milhões".
"Tudo depende do que pretendemos, dos nossos objetivos", acrescentou.
No entanto, sublinhou que, de momento, há pessoas suficientes que querem servir voluntariamente no exército, como os 156 mil homens que assinaram contratos com as forças armadas até agora este ano.
Neste encontro com a comunicação social, Putin anunciou ainda que a produção russa dos principais tipos de armas aumentou 2,7 vezes no ano passado, enquanto a produção das armas mais procuradas aumentou dez vezes.
"Tivemos um aumento de 2,7 vezes na produção dos principais tipos de armas num ano e, nos artigos mais procurados, aumentámos 10 vezes", disse Putin.
E prosseguiu: "As empresas trabalham em dois turnos, e muitas trabalham em três turnos. Trabalham praticamente dia e noite, com alta qualidade".
De acordo com o líder russo, não só o número de armas produzidas pela Rússia está a aumentar, como "a qualidade está a aumentar, a melhorar, as suas características, alcance e precisão estão a melhorar".
"E se não tivéssemos a operação militar especial, talvez nunca tivéssemos sabido como ajustar a nossa indústria militar para a tornar a melhor do mundo, e vamos fazê-lo", acrescentou.
E comparou esta situação com a da Ucrânia, que recebe todo o seu armamento do ocidente, mas cuja indústria militar é praticamente inexistente.
"O complexo industrial militar ucraniano vai simplesmente deixar de existir. O que é que eles produzem? Trazem-lhes munições, trazem-lhes equipamento, trazem-lhes armas, trazem-lhes tudo. Não se pode sobreviver assim, não se pode aguentar muito tempo", explicou.
Por esta razão, sublinhou Putin, "a questão da desmilitarização" da Ucrânia "é colocada a um nível prático".
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