"As atrocidades no Darfur Ocidental e em outras áreas são uma sinistra evocação dos horríveis eventos que levaram os Estados Unidos a determinar em 2004 que foi cometido genocídio no Darfur", disse, na quinta-feira, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano.
"Vítimas e grupos de direitos humanos acusaram com credibilidade soldados das RSF [sigla em inglês dos paramilitares das Forças de Apoio Rápido, do general Mohamed Hamdane Daglo] e milícias aliadas de violação e outras formas de violência sexual", acrescentou Matthew Miller.
O comunicado fala de localidades inteiras "arrasadas por forças saqueadoras", incluindo a cidade sitiada de El Geneina, "parte de um padrão emergente de violência étnica direcionada contra as populações não árabes".
Grupos locais estimaram que até 1.100 civis foram mortos em El Geneina, e a ONU disse acreditar que mais de 273 mil pessoas estão deslocadas no estado de Darfur Ocidental, referiu Miller.
O Departamento de Estado norte-americano condenou o assassínio do governador do Darfur Ocidental, Jamis Abdala Abkar, na quarta-feira, atribuído pela missão da ONU no Sudão a milícias árabes e às RSF.
Washington disse que as RSF e o exército sudanês, dirigido pelo general Abdel Fattah al-Burhane, "devem parar de lutar na área, controlar as respetivas forças e responsabilizar os responsáveis pela violência ou abusos, e permitir a entrega de assistência humanitária".
O Darfur, afetado por semanas de guerra no Sudão, está a caminhar para um novo "desastre humanitário" que o mundo deve evitar, alertou, na quinta-feira, o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths.
"O mundo não pode permitir que isto aconteça [no Darfur]. De novo não", sublinhou Griffiths, em comunicado, sobre uma região que presenciou no início dos anos 2000 uma guerra que causou cerca de 300 mil mortos e mais de 2,5 milhões de deslocados.
"Estou particularmente preocupado com a situação no Darfur, onde a população está presa num pesadelo real: bebés morrem nos hospitais onde estão a ser tratados, crianças e mães sofrem de desnutrição grave, acampamentos para deslocados incendiados, meninas violadas, escolas fechadas, famílias a comerem folhas para sobreviver", sublinhou.
Griffiths destacou que "a violência intercomunitária está a espalhar-se, ameaçando reacender as tensões étnicas que alimentaram o conflito mortal há 20 anos".
"Os relatos de assassínios étnicos de centenas de pessoas na cidade sitiada de El Geneina, embora não confirmados, deviam por si só incitar o mundo a agir", frisou, denunciando também obstáculos à ajuda humanitária.
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