O governo francês decidiu encerrar as atividades da organização climática Les Soulèvements de la Terre, um grupo de ativistas que tem realizado protestos apelando a medidas mais ambiciosas contra a crise climática, argumentando em prol da segurança pública.
O Les Soulèvements de la Terre (que pode ser traduzido para 'As revoltas da Terra') agrega vários coletivos ambientais franceses, e fez parte de uma demonstração numa polémica irrigação em Sainte-Soline, em março, na qual cerca de 3 mil polícias confrontaram os cerca de 5 mil manifestantes. Dois ativistas ficaram em coma, enquanto que 30 polícias ficaram feridos.
Uma organização não-governamental, a Ligue des Droits de l'Homme (LDH), denunciou a resposta por parte das autoridades, contando que, mal os manifestantes chegaram ao local, foram recebidos com gás lacrimogéneo, balas de borracha, granadas de dispersão, entre outros métodos, impedindo os ativistas de sequer protestar.
Segundo o The Guardian, a violência do protesto e a resposta desproporcional das forças de autoridade levaram a Organização das Nações Unidas (ONU) a pedir ao governo francês que reveja as suas práticas policiais, apontando para o "uso excessivo de força" em Sainte-Soline (além de outros protestos, como os que tomaram conta do país devido ao aumento da idade da reforma).
Being fed up with dictates from the Elysee:
— Richard (@ricwe123) March 25, 2023
Major attack by French protesters against the police in Sainte Soline.
Molotov cocktails were used.
Several police officers are injured..... pic.twitter.com/U9obFEQ2oR
A manifestação procurava alertar para um projeto de armazenamento de água que retira água de reservatórios subterrâneos. Segundo o grupo e especialistas ambientais, o projeto vai danificar os pequenos agricultores e o ecossistema da região, beneficiando apenas a agricultura em massa dos grandes grupos económicos.
Também este mês, o grupo encabeçou protestos na França ocidental contra uma mina, destruindo equipamento pelo caminho.
Esta terça-feira, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, confirmou no parlamento que a organização seria proibida de continuar no ativo, apontando para os polícias feridos.
O Les Soulèvements de la Terre tem protagonizado no país uma crescente radicalização de ativistas climáticos na Europa. Estes grupos, à semelhança do que tem acontecido na Alemanha, no Reino Unido e mesmo em Portugal, defendem que ações mais radicais são necessárias dado o escasso tempo que resta para os governantes tomarem medidas que permitam às próximas gerações viver num planeta habitável.
O grupo já reagiu à dissolução forçada, escrevendo nas redes sociais que os sindicatos dos agricultores e grupos económicos de alimentação industrial pressionaram o governo a tomar a decisão. "Tentar silenciar o Les Soulèvements de la Terre é uma tentativa vaga de partir o termómetro, em vez de se preocuparem com a temperatura", disse a organização, criando já um protesto contra a medida em frente à prefeitura de Clermont-Ferrand.
️️Rendez-vous demain à 19h devant la préfecture, rassemblement de soutien aux @lessoulevements face à la dissolution !
— Les Soulèvements des Volcans 63 ⏚ (@sdltvolcans63) June 20, 2023
Venez avec vos meilleures pancartes, déguisements, musiques et slogans pour partager cette fête de la musique tous ensemble ⏚ ⏚#dissolution #auvergne pic.twitter.com/2lnQ3fXSxY
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